A Faculdade Católica do Amazonas (FCA) deu início ao seu primeiro ano letivo. Após o lançamento, em setembro de 2022, seguindo com o trabalho realizado pelo Instituto de Teologia Pastoral e Ensino Superior da Amazônia (ITEPES), a FCA pretende contribuir com a formação da Igreja do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
A Aula Inaugural contou com a presença do Padre Adelson Araújo dos Santos, que refletiu sobre “Teologia, ecologia, espiritualidade e cosmovisão indígena: Ecos da Laudato Si´ e Querida Amazônia”. Desde Roma, com um coração amazonense, quis refletir de modo virtual sobre o diálogo entre Teologia e Ecologia. O professor da Universidade Gregoriana partiu da ideia de que a Laudato Si’ não é uma “encíclica verde”, e sim um escrito pontifício que defende “uma ecologia integral, apoiada na fé cristã”, na linha das outras dez encíclicas sociais, iniciadas em 1891 com a Rerum Novarum do Papa Leão XIII.
“Respeito à evangelização, à missão da Igreja, ao serviço dos cristãos ao mundo”, afirmou o jesuíta manauara. Segundo ele, “não se pode falar de compromisso social cristão sem incluir a ecologia”, insistindo em que essa é uma atitude que nasce do pedido do Concílio Vaticano II que chama a Igreja a estar no mundo. De fato, o professor considera indissociável o trinômio Igreja-Reino-Mundo, pois “a missão da Igreja, de realizar o Reino de Deus, realiza-se no mundo e para o mundo”.
O Reino de Deus tem “uma dimensão imanente, intra-histórica”, segundo o Padre Adelson. Ele defende que o conceito de ecologia “nos remete à relação do ser humano com o planeta como um todo”, considerando que o cristianismo concebe a ecologia numa tríplice relação: ser humano – natureza – Deus. Isso fez com que o conceito de ecologia fosse assumindo diferentes rostos no Magistério dos últimos pontífices.
No Magistério do Papa Francisco, a ecologia é integral “porque envolve todas as relações do ser humano”, afirmou o jesuíta, “tudo está relacionado”, nos diz Laudato Si´. Daí podemos dizer que “é a nossa fé cristã que nos leva à preocupação pela ecologia e ao compromisso social pelo cuidado da nossa Casa Comum e seus habitantes”, insistiu o professor da Gregoriana.
O Padre Adelson considera o Sínodo para a Amazônia, onde ele foi perito, como “um marco na caminhada da Igreja”. Segundo o religioso, na Amazônia, o anúncio de Cristo Jesus, “está sempre ligado à defesa da casa comum, à ecologia integral, à vida e à luta pela garantia dos direitos humanos”. Ele lembrou que a palavra central que atravessa o todo o Documento Final do sínodo é a palavra conversão: integral, pastoral, cultural, ecológica, sinodal.
Uma conversão que “deve fazer parte de todos os programas formação e evangelização na Amazônia”, insistiu o professor. Ele fez um chamado a “criar uma Igreja com rosto indígena, crescer na fé e celebrar o mistério de Cristo em sua pluralidade cultural, com símbolos e gestos das culturas locais, numa verdadeira liturgia da Igreja na Amazônia”. Analisando os quatro sonhos do Papa Francisco na Querida Amazônia (social, cultural, ecológico e eclesial), o jesuíta destacou que o sentido desta Exortação é expressar as ressonâncias, ser caminho de diálogo e discernimento, um resumo de algumas das principais preocupações, ajudar e orientar, dentre outras.
Na segunda intervenção da Aula Inaugural, a Professora Marilene Corrêa levou os presentes a refletir sobre o tema “Educação e Ciência no Amazonas: Desafios e Esperanças em Tempos de Ataque à democracia”. Ela partiu da ideia de que no Brasil a democracia está em constante ameaça, são constantes a violência e os ataques à democracia no Brasil, numa sociedade reacionária, segundo a professora da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
Num país governado por um sistema presidencialista, a organização do Estado e as políticas públicas fizeram com que durante muito tempo só o 30 por cento dos brasileiros participavam da plena cidadania. Políticas nacionais que deixam fora a Amazônia, que se restringem ao ambiente urbano, que demandam maior inclusão, o que desafia a transformar as políticas setoriais em políticas nacionais, dentre elas a educação.
A professora colocou vários desafios para a sociedade brasileira, refletindo sobre a realidade amazônica ao longo da história do Brasil e o que ela representa na conjuntura mundial, com uma agenda que envolve a Amazônia, num momento em que o Brasil se afastou da América Latina, especialmente nos últimos 4 anos. As políticas de todo tipo não alcançam a Amazônia em sua totalidade, insistiu a professora, que denunciou a hipocrisia dos brasileiros em relação à Amazônia, chegando dizer que “o Brasil sempre esteve de costas para a Amazônia”, vista muitas vezes como entretenimento e não estando presente nas políticas públicas, que não alcançam a totalidade do território amazônico.
Em relação à Amazônia, a professora da UFAM fez algumas demandas presentes na Amazônia, refletindo sobre a realidade e as prioridades, temas, agendas e estratégias que devem estar presentes na região amazônica, e que tem relação com uma falta de inclusão no Brasil presente na Amazônia, marcada por históricas desigualdades. Daí fez propostas de um novo desenvolvimento produtivo, sustentado na ciência, tecnologia e educação, em vista da sustentabilidade.
Uma Faculdade que irá se concretizando a partir de mudanças, capacidades e potencialidades, segundo o Padre Hudson Ribeiro, Diretor da Faculdade. Em parceria com diferentes universidades do Brasil e do exterior, com a colaboração do quadro de professores que fazem parte da Faculdade Católica do Amazonas, e sustentados nos princípios da instituição acadêmica.
Fonte: Luis Miguel Modino, da Comunicação Regional Norte 1 da CNBB