Os desafios de um leigo das Comunidades Eclesiais de Base, do sul do Amazonas, para participar de uma reunião em Rondônia.

Por Neurimar Pereira – Articuladora das CEBs do Regional Noroeste

Antônio dos Santos, coordenador de CEBs ribeirinhas, na Prelazia de Lábrea, motivado pela celebração do 14º Intereclesial de Londrina, participou da 1ª Reunião Ampliada das CEBs de 2018, do Regional Noroeste, em Porto Velho, de 20 a 22 de abril desse ano. Enfrentando desafios financeiros, de transporte, de chuvas e estrada, o leigo venceu as barreiras para participar da atividade.

Diante das dificuldades Antônio teve vontade de desistir, pois na estação das chuvas até de avião fica difícil se locomover e o custo é muito alto. Em linha reta são 214,9 km de Lábrea a Humaitá e 204,18 km de Humaita/AM a Porto Velho/RO. De moto, Antônio e seu filho, Bruno, percorreram 230 km de estrada sinuosa e difícil, sendo 183 km de chão e muita lama. Correram vários riscos no trajeto, como ele mesmo descreve:

“Gastei quase 12 horas de viagem, fora as travessias nas balsas. Foi difícil chegar a Humaitá, pois cada atoleiro era uma incerteza e insegurança. A estrada é isolada, tem animais, até onça eu vi, foi uma experiência única. Dormimos em Humaitá na noite de 19 e no dia 20 seguimos de ônibus para Porto Velho. Após quatro horas de viagem, chegamos em nosso destino, sabendo que na volta repetiríamos tudo, por amor às CEBs e à Missão, que nos conduziram para essa aventura missionária”, destacou Antônio.

Mas para este corajoso amazônida, pertencer e viver numa Comunidade Eclesial de Base é viver o chamado de Jesus Cristo na Igreja, é olhar para o Cristo e tê-lo como exemplo.

“Fazer parte das CEBs é viver a prática da fé, não é só razão, é viver como os apóstolos nas primeiras comunidades. E o fato das comunidades ter os pés no chão e assumir a realidade política social me faz crer no mundo melhor para mim e para os outros irmãos. Em Lábrea, somos uma Igreja que luta e a luta é estar do lado dos pobres e excluídos. É fazer diferente, com consciência e ter sempre o Cristo na frente nos guiando”.

À pergunta, se valeu a pena ter participado do encontro das CEBs, Antônio responde:

“Enfrentei esse desafio de ir de motocicleta de Lábrea a Humaitá, numa BR perigosa e complicada, mas valeu a pena ter participado da Ampliada, o envolvimento com o regional e com os articuladores de outras dioceses me ajuda no amadurecimento da fé e vivência cristã, é sempre um aprendizado novo, me motiva a ser mais ainda uma Igreja em saída. Cada encontro é uma experiência. Nenhum encontro é igual ao outro, cada encontro é um crescimento, a gente chega em casa ou na comunidade com o coração mais ativo. E percebo que ao passar dos anos, nós articuladores estamos melhores: discutimos, planejamos e estamos interligados e unidos”.

Para Antônio, viver o cotidiano das CEBs demonstra como essas pequeninas comunidades ribeirinhas, tão distantes das grandes cidades, celebram sua fé nos momentos alegres e difíceis.

“São muitas as dificuldades nas comunidades, muitas coisas ruins acontecem, muitas desavenças, mas nós nas comunidades, com sabedoria e fé vamos enfrentando e superando as barreiras. As Santas Missões Populares nas CEBS estão nos ajudando a unir as comunidades, a formação nos ensina a sair do comodismo, a nos darmos as mãos para crescer juntos como Igreja missionária, assumindo o desafio de ser Igreja que arrisca mesmo. Não queremos viver isolados e egoístas, mas queremos ser uma Igreja corajosa, como pede o papa e, juntos com os irmãos leigos e leigas, padres e religiosos e o nosso bispo estamos nessa de mãos dadas e cada um e uma dando força para o outro”.

Mas esse leigo de fé, em sua sofrida viagem pela floresta, rumo ao Encontro das CEBs, acreditou em sua missão.

“Rezei muito e pedi a Deus para me ajudar durante o trajeto. Pensei em desistir. Pedi oração da minha paróquia, prelazia e da minha família. Cai algumas vezes na lama, mas a força da Oração e da Fé me ajudou. Como sempre, tive o apoio da minha comunidade e da diocese.  Dom Santiago e meu Pároco me animaram a participar da Ampliada. Tive ajuda também do meu Regional. Também gastei do meu bolso, mas isso não importa, o que importa mesmo é o Reino de Deus agora e aqui no meio do meu povo. Estamos na batalha independente do recurso, somos motivados pelos nossos pastores a arregaçar as mangas e colocar as mãos na massa. Não é fácil um leigo missionário, principalmente quando você trabalha e precisa viajar para visitar as comunidades ou participar de encontros longe da sua cidade; você enfrenta resistências e incompreensões, mas acredito que sempre conseguirei, tendo Deus na minha frente e me dando sabedoria. A formação e partilha da vida em grupo e principalmente num espaço como a Ampliada Regional das CEBs, me ajuda na comunidade e no meu trabalho”.

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