Está reunido, em Manaus, nesta segunda-feitra (20), o Grupo de Reflexão do Sínodo para a Amazônia. Formado por bispos, especialistas, assessores e colaboradores da Rede Eclesial Pan-Amazônica/REPAM, o grupo se encontra para avaliação das ações realizadas em vista do sínodo até agora, refletir sobre a caminhada sinodal e organizar as contribuições para que serão apontadas pelo grupo no III Encontro da Igreja Católica na Amazônia Legal.
Pela manhã, o grupo iniciou as atividades com acolhida realizada pelo presidente da REPAM e Comissão Especial para Amazônia/CEA, Cardeal Cláudio Hummes. Segundo ele é papel fundamental do Grupo de Reflexão garantir fundamentação teológica, metodológica, bíblica, pastoral e cultural no processo sinodal. “Hoje a Igreja, sobretudo o papa, insiste para irmos às periferias. Temos que sair, ir ao encontro. Tudo isso nos indica a necessidade de novas fundamentações. E é por isso que os senhores e senhoras estão trabalhando, para encontrar fundamentações em tudo o que está sendo construído”, completou o cardeal.
Na sequência, Ir. Maria Irene Lopes, secretária executiva da REPAM e assessora da CEA, fez memória da última reunião do grupo, realizada em junho, em Brasília, e motivou o grupo a recordar as discussões e os pontos marcantes. Em seguida, o padre Paulo Suess, assessor do Conselho Indigenista Missionário/CIMI e membro do grupo de assessores que contribuiu na elaboração do Documento Preparatório do Sínodo para Amazônia, partilhou alguns apontamentos do que ele acredita ser importante se destacar no caminho do Sínodo. “O Sínodo para a Amazônia terá relevância pastoral para a relação entre Igreja local e Igreja universal. Num sentido amplo, o Sínodo foi convocado para desencadear uma “viragem descolonial” da Amazônia, a fim de amparar sua biodiversidade para o bem de toda a humanidade, e para construir uma Igreja com “rosto amazônico”, afirmou Suess.
Os trabalhos da manhã terminaram com uma partilha de Cristiane Murray, jornalista do Vatican News e da Secretaria do Sínodo, dos encaminhamentos e últimas orientações da Secretaria para o processo sinodal. No período da tarde o grupo se debruça acerca de materiais para os bispos sobre a realidade da Amazônia e na pauta do III Encontro da Igreja Católica na Amazônia Legal, que começa na noite dessa segunda-feira, quando o grupo contribuirá na assessoria da atividade.
Reflexões do Sínodo
Entre as discussões do grupo acerca do Sínodo, o Cardeal Claúdio Hummes lembrou que algumas questões precisam ser evidenciadas. Segundo o Cardeal é preciso ter em conta que se quer refletir sobre a Igreja com rosto amazônico, considerando todas as realidades dos povos da região. “Como inculturar a fé? Como dar à Igreja um rosto amazônico? Como passar de uma Igreja desinteressada pelos indígenas, de uma Igreja indigenista (que apenas defende os direitos), para uma Igreja indígena, ou seja, que nasce de dentro dos povos indígenas? Queremos um Sínodo que não se ocupe só dos indígenas, apesar de serem eles prioridade, mas que se ocupe com os povos de toda a Amazônia”, destacou o Cardeal Cláudio Hummes.
Para Peter Hughes, padre missionário no Peru e membro da equipe de assessores que contribuem na equipe de elaboração do Documento Preparatório do Sínodo, há uma espécie retomada do Concílio Vaticano II e da Conferência de Medellín na convocação do Sínodo. “Estamos vivendo a memória dos 50 anos de Medellín. Creio que esse Sínodo da Amazônia e a mensagem do papa em Porto Maldonado retomam o espirito de Medellín, como resposta ao Vaticano II no momento presente. Este Sínodo coloca de novo, no centro do debate, o sentido da história na Igreja. É muito difícil ainda entender e ver que a experiência de Deus se realiza em uma só história. Outro ponto é o lugar dos pobres na Igreja como tema central, teologal, não apenas social. Mas os pobres sendo os primeiros destinatários do Reino”, afirmou Peter.
Padre Paulo Suess recorda que o Sínodo para a Amazônia não está desconectado com a história do povo de Deus. “Nos documentos centrais, que fundamentam o “Documento Preparatório”, está presente a memória histórica do povo de Deus, que lembra a Igreja de promessas cumpridas e de outras, ainda não cumpridas, no decorrer de uma longa caminhada. O Sínodo Pan-Amazônico é herdeiro dessa caminhada. Na busca de “novos caminhos”, o Sínodo se situa num processo que movimenta os envolvidos, como uma canoa movimenta seus passageiros no rio Amazonas.”, destacou o Padre Suess.