O Movimento Articulado das Mulheres da Amazônia emitiu, nessa quinta-feira (25/07), nota de repúdio aos comentários proferidos pela Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves. Em visita na última semana à Ilha do Marajó, Damares participou da apresentação do programa “Abrace o Marajó”, lançado no arquipélago paraense no último dia 12 para combater a exploração sexual e violência contra crianças, adolescentes, juventude, mulheres e pessoas idosas.

Em vídeo que circula nas redes sociais, a ministra afirma que especialistas disseram ao gabinete do ministério que as meninas do Marajó sofrem violência sexual por não usarem calcinha. Damares, na gravação, propõe a instalação de uma fábrica de calcinhas no local. “Por que os pais exploram? É por causa da fome? Vamos levar empreendimentos para a ilha do Marajó, vamos atender as necessidades daquele povo. Uns especialistas chegaram a falar para nós aqui no gabinete que as meninas lá são exploradas porque não têm calcinha. Não usam calcinha, são muito pobres. E perguntaram ‘por que o ministério não faz uma campanha para levar calcinhas para lá?’. Nós conseguimos um monte. Mas por que levar calcinha? Essa calcinha vai acabar. Nós temos que levar uma fábrica de calcinhas para a ilha do Marajó, gerar emprego lá, e as calcinhas saírem baratinhas para as meninas”, disse a ministra.

Após o vídeo se espalhar na internet várias organizações se manifestaram criticando o posicionamento de Damares. Confira a nota de repúdio do Movimento Articulado das Mulheres da Amazônia:

 

Nota de Repúdio

Nós, mulheres da Amazônia, ribeirinhas, pescadoras, camponesas,  estrativistas, parteiras tradicionais, quebradeiras de côco, erveiras, indígenas, negras, de matriz africana, do campo, da floresta, das águas e das cidades, repudiamos e desaprovamos publicamente a postura da Ministra Damares que devido a sua ignorância e total desconhecimento da realidade dos povos amazônicos, se reporta de forma indigna e desrespeitosa  a condição de vida das mulheres e crianças  amazônidas. O conteúdo expresso ao se reportar sobre a violência sexual  praticada contra às mulheres, jovens e crianças traduz de forma agressiva,  machista, misógina e discriminatória a prática do governo brasileiro ao tratar a questão da violência praticada contra mulheres jovens e crianças no Brasil.

A manifestação da Ministra, ao se referir às mulheres e às meninas da Amazônia, que sofrem diariamente as consequências do descaso e ausência do estado brasileiro, em não promover a distribuição de renda justa para aplicar em políticas públicas que garantam a geração de trabalho, emprego e renda para as mulheres desta região, demonstra  o quanto o governo brasileiro está distante da realidade dos povos amazônicos. Não bastasse a posição delinquente e preconceituosa do governo brasileiro contra o povo nordestinos, agora presenciamos o discurso de um Ministério constituído para resguardar os direitos das mulheres, vindo a público se manifestar contra as mulheres do Norte, da Amazônia brasileira!

Diante dessa triste e perversa realidade, as entidades, organizações, movimentos sociais de mulheres, coletivos feministas dos nove Estados da Amazônia Brasileira, que integram o Movimento Articulado de Mulheres da Amazônia, denunciam, junto às autoridades, órgãos nacionais e internacionais, a violação institucional dos direitos das cidadãs brasileiras que vivem nas florestas, no campo e nas cidades amazônicas!

Exigimos respeito e políticas públicas!

POR MIM, POR NÓS, POR TODAS!

Movimento Articulado de Mulheres da Amazônia/ MAMA

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