Por Victória Holzbach | Comunicação CNBB Sul 3
O terceiro dia do 5º Congresso Missionário Nacional iniciou neste domingo com o compromisso de iluminar a missão a partir da Amazônia. “Em Gênesis se lê que o Espírito pairava sobre as águas. Na Amazônia o Espírito se move sobre as águas, na sua superficialidade e na sua profundidade”, garante a Ir. Sônia Matos. A religiosa participou, junto com o Mons. Raimundo Vanthuy Neto, do segundo painel temático deste 5CMN, com o tema “Da Amazônia aos confins do mundo”.
“Mulher, amazônida, ribeirinha e religiosa”, foi como a ir. Sônia se definiu ao iniciar sua exposição. Ela alertou sobre o perigo de olhar para a Amazônia como ‘terra de missão’, como se estivesse vazia, sem caminho e sem história, não levando em conta as inúmeras potencialidades da realidade local e das experiências já existentes.
A religiosa seguiu realçando a riqueza da realidade amazônica e afirmou que não é possível estudar em teorias a diversidade, a pluralidade e tudo aquilo que fala além das palavras: “É preciso compreender a Amazônia não a partir dos livros, mas a partir da leitura dos rios e das árvores que se entrelaçam em harmonia e resistência”, afirmou, concluindo que para compreender essa realidade é preciso que o missionário e missionária passe por uma ‘alfabetização dos símbolos, a partir de dentro”.
Os confins do mundo estão em nossas Igrejas locais
Mons. Raimundo Vanthuy Neto, bispo eleito para São Gabriel da Cachoeira (AM), seguiu o painel questionando “Onde estão os confins do mundo?” e afirmou: “Aqui, na Amazônia também estão os confins do mundo”.
O painelista apresentou a realidade Amazônica, com 180 povos indígenas, 180 culturas e modos diferentes de viver e 160 línguas. Mons. Vanthuy alertou sobre a tentação de chegar neste contexto, na missão, e dizer ‘esse povo é muito diferente’ e seguiu com a provocação: “Mas diferente de quem? Quando o ponto de vista é a apenas o nosso, tudo será mesmo diferente”.
Para mons. Vanthuy, um ponto fundamental para compreender a missão da Igreja no chão da Amazônia é a terra e a sua importância para a vida das populações indígenas e os povos amazônidas. “Por isso a Igreja ousou e ousa ficar ao lado deste povo na luta pelos territórios. Talvez essa foi e se tornará cada vez mais a ação mais urgente da Igreja”, realçou.
Ele continuou com a apresentação do que acredita serem os três grandes ensinamentos dos povos da Amazônia à Igreja: a vida comunitária; a consciência da pertença a um povo, de que somos uns com os outros; e a percepção de que tudo está interligado – “descuidar de uma terra indígena e ficar míope às periferias de nossas cidades, é continuar o desequilíbrio”, concluiu.