Foto: Vatican Media

“Apelamos à comunidade internacional, reunida na COP26, a tomar uma ação rápida, responsável e compartilhada para salvaguardar, restaurar e curar nossa humanidade ferida e o lar confiado à nossa custódia”. Assim líderes religiosos e cientistas dirigiram-se às autoridades que participarão da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), em Glasgow, a partir do próximo dia 31.

O encontro “Fé e Ciência: rumo à Cop26” foi realizado na segunda-feira, 4 de outubro, dia da Festa de São Francisco de Assis, na Sala das Bênçãos, no Vaticano. O objetivo foi assinar o apelo preparado nos últimos meses e entregar ao presidente da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, Alok Kumar Sharma. Participaram do evento 22 líderes religiosos, entre eles o Papa Francisco, que, junto com jovens e os cientistas presidentes das Pontifícias Academias das Ciências e Ciências Sociais, assinaram o documento com as preocupações e desejos por uma maior responsabilidade pelo planeta e pela mudança necessária.

“O encontro de hoje culmina vários meses de intenso diálogo fraterno entre líderes religiosos e cientistas, reunidos na consciência da necessidade de uma solidariedade cada vez mais profunda em face da pandemia global e da crescente preocupação com nossa casa comum”, afirmam os signatários no apelo.

Conscientes da interligação e interdependência de todos os elementos e seres vivos presentes na casa comum, os cientistas e líderes religiosos ressalta essa conexão como “a base da solidariedade interpessoal e intergeracional e da superação do egoísmo”. Eles denunciam também a tendência predatória de olhar o mundo natural como algo a ser explorado como parte da causa dos danos ao meio ambiente, ao não considerar que a sobrevivência humana depende da biodiversidade e da saúde dos ecossistemas planetários e locais.

“As múltiplas crises que a humanidade está enfrentando demonstram os fracassos dessa abordagem; essas falhas são, em última análise, o resultado de uma crise de valores, éticos e espirituais”, pontuam.

Apelos

No documento, que pode ser acessado na íntegra aqui. Pedem “maior ambição na COP26” e destacam a necessidade de “um contexto de esperança e coragem”

Pedem, por exemplo, para mudar a narrativa do desenvolvimento e adotar uma economia que coloque a dignidade humana no centro e seja inclusiva, que cuida do meio ambiente, e que seja um suporte para a vida. Outra proposta é que sejam zeradas as emissões líquidas de carbono o mais rápido possível, “com os países mais ricos assumindo a liderança na redução de suas emissões e financiando as reduções de emissões das nações mais pobres”.

Compromissos

Além dos pedidos, os signatários fazem compromissos, uma vez que “os fiéis das tradições religiosas têm um papel crucial a desempenhar no enfrentamento da crise de nossa casa comum”. Dessa forma, o compromisso é por “agir com muito mais seriedade”. Os jovens, sublinha o apelo, “estão pedindo aos mais velhos que ouçam as indicações da ciência e façam muito mais”.

O conjunto de compromissos está baseado em dois pontos: transformação educacional e cultural; e empreendimento de ações ambientais no âmbito das instituições e comunidades, “com a informação da ciência e os fundamentos da sabedoria religiosa”.

Interdependência e partilha

Em seu discurso, entregue aos participantes, o Papa Francisco escreveu que é preciso identificar comportamentos e soluções que devem ser adotados “com olhar aberto à interdependência e à partilha”. Para Francisco, não se pode agir sozinho; “é fundamental o empenho de cada um no cuidado dos outros e do ambiente, um empenho que leve à tão urgente mudança de rumo, que deve ser alimentada também pela própria fé e espiritualidade”.

Sua reflexão considerou o olhar da interdependência e da partilha, o motor do amor e a vocação ao respeito como três chaves de leitura para iluminar o trabalho pelo cuidado da casa comum.

“A COP26 de Glasgow é urgentemente chamada a oferecer respostas eficazes à crise ecológica sem precedentes e à crise de valores em que vivemos e, assim, dar uma esperança concreta às gerações futuras: queremos acompanhá-la com o nosso empenho e a nossa proximidade espiritual”, disse o Papa Francisco.

Um tempo de graça

Os participantes destacaram, ao final do apelo, que “estamos vivendo um momento de oportunidade e verdade”. O pedido, em oração, é que a família humana possa se unir “para salvar nosso lar comum antes que seja tarde demais”.

 As gerações futuras nunca nos perdoarão se desperdiçarmos esta oportunidade preciosa.
Herdamos um jardim: não devemos deixar um deserto para nossos filhos.

O apelo a todos os habitantes da terra é para que estejamos todos unidos nessa “jornada comum, sabendo muito bem que o que podemos alcançar depende não apenas de oportunidades e recursos, mas também de esperança, coragem e boa vontade”.

“Olhamos para o futuro com esperança e unidade. Procuramos ajudar as pessoas do mundo, especialmente os pobres e as futuras gerações, estimulando uma visão profética, uma ação criativa, respeitosa e corajosa pelo bem da Terra, nossa casa comum”.

Fonte: CNBB

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