As projeções para os próximos anos confirmam que os desafios serão grandes para quem atua ao lado dos povos amazônicos, na defesa de suas vidas, culturas e territórios. Mesmo o papa Francisco já havia previsto este contexto, quando visitou Puerto Maldonado, no início deste ano de 2018. A assessora da Rede Eclesial Pan-Amazônica/REPAM-Brasil Moema Miranda comenta sobre os direcionamentos apontados na reunião do Comitê Ampliado da REPAM-Brasil realizada na última semana.
“Nós sabemos que o ano de 2019 exigirá de todos nós, no Brasil e, particularmente, na Amazônia, uma atenção especial para os desafios e as disputas que vão estar colocados no nosso calendário”, afirma Moema.
A REPAM se insere neste contexto com mais força a partir de sua caminhada ao longo dos anos e da preparação para o Sínodo Amazônico, o “kairós” que possibilitou a escuta das lutas e clamores dos povos da região. Como rede, estará de forma mais decidida “junto com os povos da Amazônia, junto com a terra da Amazônia, com os pássaros da Amazônia, com os rios da Amazônia, em defesa da vida frente às disputas e o projeto de morte que nós sabemos que vão estar também fortalecidos nesse próximo ano”.
Agronegócio, exploração madeireira e mineral, grandes projetos de energia são ameaças à conservação da floresta e à vida das comunidades indígenas, ribeirinhas, quilombolas, entre outras. “Nós estamos então somando força, como Igreja com rosto amazônico, à luz da ecologia integral para dizer: ‘Existem alternativas de vida, viáveis inclusive economicamente. A economia dos povos, a forma de vida dos povos rende, gera vida, permite que todos vivam mais e melhor. A floresta em pé é parte disso: povo, floresta, rios, lagos, todos somos um, todos estamos integrados”, destaca a assessora da REPAM.
Esta integração pode ser refletida no debate econômico sobre a Amazônia. Região muito visada pelas atividades exploratórias para gerar divisas, a Amazônia é responsável pela manutenção do seleiro de produção agropecuária que compreende uma faixa entre Goiás e São Paulo, a qual em outras partes do mundo é desértica. Esta influência da floresta no regime de chuvas desta área do Brasil gera cerca de 690 bilhões de dólares para o país, como destacou o procurador federal Felício Pontes Júnior, durante o encontro do Comitê Ampliado da REPAM-Brasil.
Articulação
A Rede Eclesial Pan-Amazônica, que está a serviço da vida na Amazônia, pretende ser instrumento de articulação. Para os próximos anos, a REPAM deve fortalecer essa articulação da presença da Igreja, “ser uma Igreja ao lado dos povos, dos pobres que clamam, ser uma Igreja que se coloca de forma profética”. “Nós saímos daqui com uma forte caminhada, com um forte compromisso e com uma grande esperança de que nos tempos de sombra, estaremos na luta”, ressalta Miranda.