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Cumprindo uma promessa feita no Sínodo para a Amazônia em outubro de 2019, o Papa Francisco autoriza a participação das mulheres com direito a voto na próxima Assembleia Sinodal a ser realizada em outubro deste ano, em Roma. A novidade foi apresentada na última semana na sala de imprensa da Santa Sé pelos cardeais Mario Grech e Jean-Claude Hollerich, respectivamente secretário-geral do Sínodo e relator-geral.

Mesmo com a mudança na composição dos participantes, o nome do evento eclesial não sofre modificações, permanecendo “Sínodo dos Bispos”. Contudo há uma mudança significativa e histórica na atividade que contará, desta vez, com metade dos participantes não-bispos sendo mulheres (35) e mais 5 religiosas, eleitas pela organização das superioras gerais (UISG).

“Eu quando vi essa notícia pela primeira vez, me reportei logo ao Sínodo de 2019, mas acredito que não foi só ali que começou essa instigação”, afirmou a Ir. Maria Irene Lopes, assessora da Comissão para a Amazônia, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e secretária executiva da Rede Eclesial Pan-Amazônica no Brasil (REPAM-Brasil) e participante do Sínodo para Amazônia, que não duvida em ver o Sínodo de 2019 como um divisor de águas.

Ir. Rose Bertoldo e Ir. Maria Irene Lopes | Foto: Luis Miguel Modino

Ela recorda que naquela ocasião já havia um movimento significativo que levou à participação de um grande número de mulheres indígenas, leigas e religiosas no Sínodo para a Amazônia. “Nós pedimos para ter voz, pedimos poder falar, quem sabe até votar, foi o sentimento que tivemos e que o Papa também teve naquele Sínodo”, recordou Ir. Irene. “O Papa olhou para nós e disse: ‘não foi desta vez ainda, mas vocês vão ter esse espaço’”, destacou a religiosa ao lembrar que em momento algum do Sínodo as mulheres presentes na Assembleia foram esquecidas por Francisco.

Para Ir. Rose Bertoldo, secretária executiva do Regional Norte1 da CNBB e que também participou do Sínodo para a Amazônia, essa decisão do papa Francisco é fruto de um processo que vem sendo amadurecido ao longo dos dez anos de seu pontificado. Para ela, Francisco “é um Papa de processos. O voto das mulheres nesse Sínodo é fruto desse processo, que ele vem fazendo na Igreja, que a gente sabe que não é fácil”, destacou.

Para Ir. Rose, essa decisão de Francisco não pode ser vista de forma isolada, uma vez que ela aponta para o reconhecimento do trabalho que as mulheres desenvolvem na Igreja e que são a sua maioria em números de participantes. “O rosto hoje da Igreja é feminino, esse reconhecimento é fruto desse processo, com que o Papa aos poucos vai abrindo espaço para que isso se consolide na Igreja”, afirmou a religiosa apontando que esse movimento não pode ser retrocedido.

As mulheres na Igreja da Amazônia

Ir. Irene Lopes recordou da participação das mulheres no processo preparatório para o Sínodo para a Amazônia, de todo o envolvimento que elas tiveram nas escutas realizadas. Para ela, esse movimento, junto com todo o processo do Sínodo, contribuiu para que o episcopado da Amazônia tivesse um olhar diferenciado para as mulheres. “Não temos mais como pensar na Igreja da Amazônia sem a presença das mulheres”, afirmou a religiosa que disse perceber uma maior valorização das mulheres nas comunidades.

Para Ir. Rose Bertoldo, as mudanças vêm acontecendo porque as mulheres estão sendo mais ouvidas. “Há um processo mais aguçado de escuta por parte dos bispos, e desse processo de escuta surge a confiabilidade e essa valorização e reconhecimento da nossa participação”, insistiu a Ir. Rose. “E não é a mulher tirar o espaço do homem, é a contribuição que nós mulheres, de fato, damos com legitimidade na Igreja” concluiu a religiosa.

*Paulo Martins com informações de Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1.

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