Notícia

Por Luis Miguel Modino

Aos dias 11 e 12 de junho de 2022 o Núcleo de reflexões Pluriétnicas YUU se renuiu para refletir e partilhar acerca da temática “Intersaberes Indígenas e espaço formativo”. O encontro foi realizado no Seminário Arquidiocesano São José. Como de práxis contou com as contribuições dos seminaristas indígenas de 6 povos: Macuxi, Desano, Tukano, Maraguá, Tikuna e Kokama.

“Nós ressignificamos o espaço formativo do Seminário São José, e é importante reafirmar isso”, segundo Eliomar do povo tukano. O Núcleo de Reflexão Pluriétnicas Yuu nasce na perspectiva de pensar a própria presença dos seminaristas indígenas dentro do espaço religioso de formação.

A ressignificação parte da própria vivência, neste sentido o espaço é fundamental na reflexão. O Seminário se transforma numa grande Oca Espiritual. O espaço da oca ou melhor, da Casa de Saberes dentro da cultura indígena é espaço sagrado de aprendizagem. É ali que vão surgir os mestres de cantos e de danças, e todos agentes de saberes, assim também é o Seminário São José, um espaço de iniciação e de transmissão intercultural.

“Uma vez assumindo esse processo de ressignificação cabe a nós assumir um modelo de ensino e aprendizagem que expresse este projeto”, afirma Eliomar. E é preciso ainda nos questionar “onde estamos?”, ao que responde que “numa grande oca no meio da Amazônia”.

O Seminarista do povo Tikuna Hércules, fala da ressignificação da expressão “Yuu” dentro da dinâmica da ritualidade. Yuu pode ter a mesma expressão como “oremos” ou ao final de uma ritualidade como “amém”.  O significado da expressão é utilizado como nome do próprio núcleo de reflexão, num processo de ressignificação que caracteriza as reflexões numa identidade própria. Genilson do povo Kokama fala como é diferente o ritmo de um seminário para o ritmo na comunidade de origem. “Para o seminarista que chega da aldeia complica um pouco entrar neste novo ritmo. Mas aqui no Seminário São José, com a ajuda dos nossos formadores aprendemos a chamar o seminário de nossa casa, isso nos ajuda muito”, afirma Genilson.

Anderson do povo Maraguá reforça o processo entre aldeia e seminário e afirma a importância do núcleo de reflexão como elemento formativo do seminário. Marcos do povo Macuxi fala da importância da dança e dos cantos dentro da dinâmica das culturas. A identidade como elemento a ser trabalhada dentro desses espaços, tanto da comunidade quanto da formação religiosa. Idelfonso também do povo Macuxi fala do processo de transmissão de conhecimentos dos povos indígenas, afirma ele: “quando vejo falar ‘temos que aprender com os povos indígenas’ fico pensando: ‘aprender como?’ Pois para nós as vezes falar é muito difícil. Nós aprendemos com a natureza, um conhecimento que parte da contemplação”.

O seminarista afirma que “um dia perguntei para um tuxaua qual o seu maior medo? E ele disse: a distinção. A maior contribuição do Núcleo de Reflexão YUU é a interação entre nós essa interconexão entre os povos. Na comunidade indígena o que mais provoca conflito é quando chega alguém que faz uma cerca e declara isso aqui é meu! O ambiente fechado é o que mais nos assusta”. Jadson da etnia Desano fala como o núcleo o ajuda no processo formativo e como aos poucos vai aprendendo a partir dessa grande Oca espiritual.

Dom Leonardo Steiner esteve presente no encontro e disse que “a diversidade cultural é uma riqueza, e que ajuda no fortalecimento da identidade e no aprofundamento na própria cultura, e que é profundamente importante na afirmação do que é próprio de cada cultura e na rica presença dos indígenas na Igreja e nos diferentes ministérios”.

O encontro teve a presença de leigos e leigas indígenas da Arquidiocese de Manaus que contribuíram com a reflexão.  A família kokama e tikuna fizeram a abertura do encontro com a leitura do relato da criação na língua tikuna e cantos na língua kokama. Daniel Piratapuyo acentuou a magnitude dos elementos culturais utilizados no encontro como por exemplo, o Banco kumurõ. Segundo o indígena do povo Piratapuyo “foi um dos elementos sagrados que o Avó do Universo utilizou na criação do universo, por isso, em cada ritual se revive o que seus antepassados já viveram um dia, atualização da memória ou da narrativa sagrada, se atualiza a partir do passo de dança, da recepção, do respeito, do grito e em cada som flautas”

Na ocasião aconteceu o lançamento da “Ressonância 2021”, que é uma síntese de todas as reflexões dos seminaristas indígenas referentes aos encontros de 2021, que depois de um longo processo de redação e reflexão foi aprovado no início deste ano.

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