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Olimpíadas e a Santa Ceia de Jesus, assunto que ganhou atenção especial no mundo inteiro. Entre o belo das olimpíadas e a expectativa dos amantes atletas do esporte, a abertura foi requintada pela presença de um cenário atípico, estreitando uma relação com a Santa Ceia de Jesus. Foi sucesso? Grande espetáculo? Desaprovação? Condenação da cena? Vamos lá.

Há alguns dias atrás, temos acompanhado no mundo inteiro a abertura das olimpíadas, em Paris, capital da França. O grande espetáculo nos proporcionou uma atenção diferenciada/inusitada por parte de muitas pessoas, organizações e instituições que, com toda a liberdade, colecionamos diversas posições, análises, críticas, louvores etc. Escárnio e escândalo, entre outras vozes e expressões, ecoaram pelo mundo.

Compartilho com aquelas vozes verdadeiramente comprometidas com o desejo da grande Verdade: a Ceia de Jesus; sinto-me perplexo por outras posturas, porque muitos nos escandalizamos com o que foi apresentado no palco de Paris, mas não nos escandalizamos com o genocídio que não para todo dia contra os povos originários no Brasil, a caça contra os irmãos indígenas. Não nos escandalizamos com tantos feminicídios, assassinatos de adolescentes e jovens. Jesus continua sendo massacrado em nossos dias.

Uma senhora de terceira idade, de Taquaroçu do Norte, assentamento que herda a triste história da chacina de nove pais de família, homens trabalhando na terra; da região de Colniza, dona Cleusa precisou viajar de carro por mais de 1.000 km, ferida de braço quebrado até Cuiabá, no Estado em que mais cresce economicamente. Foram 15 horas de dor pelo caminho, me contou a senhora. Um Estado que tem o maior crescimento econômico sem, contudo, o significado ético de crescimento social.

Não nos escandalizamos como é tratado o lixo que produzimos nem com o descuido com o meio ambiente. Não há escárnio com o que se faz com as matas e as florestas de forma ilegal. Com a queima do Pantanal. Não há escárnio para o cerrado em extinção. Não nos escandalizamos com o despejo de assentados em um pedacinho de terra. Não nos escandalizamos com o Zito, com o João e outros tantos abandonados à mercê de sua própria sorte, em escombros de nossas periferias, apenas contando senão com a companhia de um litro de cachaça e um cachorro amigo. Não poderia ser ético e espiritual nos escandalizarmos com isso também?

Não nos escandalizamos com a guerra na Faixa de Gaza. Quantas crianças inocentes, mulheres e pessoas idosas sendo sacrificadas no trono dos poderosos deste mundo. Não escandaliza uma Ucrânia devastada pela “boa ordem imposta com o exercício da guerra pela paz”? Não nos escandalizamos com a fábrica de mentiras que são espalhadas todo dia confundindo a opinião pública e confundindo a Verdade.

Para todos de perto ou distante de nós, não são escarnio de Jesus Cristo, no tempo denominado hoje e sacrifício no altar da Santa Ceia que é Jesus no rosto de tantos indefesos e inocentes? Com certa facilidade, nossos holofotes se posicionaram para mais longe, sem levar atenção ao que acontece à sombra de nossa casa. Como poderíamos ver de maneira universal e, na humildade, todos os fatos e aplaudir o que está bem, e ajustar a vida de todos, especialmente, os pobres e refugiados, fabricados pelo sistema?! Pode-se desaprovar aquele gesto da Santa Ceia de Jesus na abertura, entretanto, sem jamais aprovar os massacres de hoje.

O sangue derramado dos povos originários não será sangue martirizado que o sistema produz na maior indiferença e frieza numa economia sem coração? No entanto, isso parece não escandalizar, isso não é escárnio, parece. Olimpíadas de mulheres vencedoras pretas, ouro na mão, bandeira ao alto, nação em festa, mas não escandaliza o racismo contra estas referidas mulheres e racismo contra os pretos?!

Rezo, penso e me resigno por Jesus, mas também por falta de reconhecer o escárnio em todos os sentidos nas olimpíadas de nosso santo dia a dia. Olimpíada que não termina. Escarnio que não sossega. Seja o Cristo, em nossos dias, em Santa Ceia louvado, adorado, cantado em espiritualidade viva, espiritualidade transfiguradora. Seja celebrado solenemente com a mística da redenção da humanidade inteira, sobretudo, partir de baixo como Ele próprio desceu para elevar o humano ao nível do divino. Seja vivido na práxis dos corações humanos, rezado na Santa Ceia, assumindo-o no rosto ensanguentado do indígena, do ribeirinho, nas mulheres e nos jovens, na floresta e na água envenenada e no ar poluído.

Para as olimpíadas de todo dia, a Santa Ceia atualize no massacre de Cristo no rosto do pobre, o rosto do bêbado, o rosto do dependente químico entre outros rostos, o rosto do preconceito. Por fim, peço-Te: ajuda-nos, Senhor Jesus Cristo, a buscar-Te como foste em Tua integridade original, mártir, com o rosto de sangue derramado como tantos cristos em nossos dias. Perdoa-nos se te brincamos, como reconhece o Comitê Olímpico de Paris: “passamos dos limites”, sem compromisso diante da vida e da morte, cuja realidade da Santa Ceia nasce durante uma janta, para ser a família humana uma mesa farta para todos como foi a primeira missa que Jesus rezou com o Lava-pés. Não permita que Te injuriemos nem na Santa e última Ceia, nem na Ceia do nosso dia a dia nos empobrecidos dizimados da terra. O mundo seja o palco da festa com a “vida em abundância para todos”, uma olimpíada feliz, uma Ceia de amor e doação como aquela de Jesus. Na Ceia de Cristo, todos são irmãos, Ele compromete o seu povo à comunhão.

Fonte Dom Neri José Tondello – Bispo Diocesano de Juína
Imagem Anadolu Agency /Anadolu Agency via Getty Images
Reprodução: Diocese Juina

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