Após a audiência do Pontífice, os representantes da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA) visitaram a mídia vaticana para compartilhar suas impressões sobre o encontro, detalhar os pontos discutidos e avaliar o caminho percorrido até o momento.
Sebastian Sanson Ferrari – Vatican News
As lideranças indígenas Patricia Gualinga, Irmã Laura Vicuña e Yesica Patiachi entregaram, nesta quinta-feira, 1º de junho, uma série de presentes ao Papa Francisco que as populações da Amazônia lhes enviaram de seu território. Esta delegação da Conferência Eclesial da Amazônia ( CEAMA ) e da Rede Eclesial Pan-Amazônica foi recebida em audiência pelo Pontífice no Palácio Apostólico Vaticano. Eles tiveram “uma conversa agradável, calma e muito confiante”, segundo disseram à mídia vaticana após o encontro.
“Isso nos deu muita segurança e confiança”, diz Gualinga, vice-presidente da CEAMA e líder Kichwa de Sarayaku, Equador.
A Igreja e o Grito dos Povos Originários
Segundo Gualinga, os representantes dos povos originários da Amazônia discutiram o trabalho das mulheres da Igreja no território, o reconhecimento da estrutura eclesiástica desse trabalho, a realidade dos indígenas e a educação.
Gualinga expressa sua emoção pelo ambiente natural e familiar em que puderam apresentar suas preocupações ao Sucessor de Pedro, “para que ele tenha conhecimento disso”, acrescenta.
O Papa elogiou o empenho das mulheres amazônicas, sua sensibilidade, sua tarefa evangelizadora. “Parece-nos que é um trabalho muito importante, tem-nos encorajado a continuar no processo, tem-nos dito que a mudança já não é para ninguém”, sublinham.
Extrativismo da mineração é o novo boom
As lideranças indígenas estão muito preocupadas com as políticas que estão sendo geradas em vários lugares e que violam os direitos humanos em nível internacional e especialmente contra os direitos dos habitantes da Amazônia. Muitas dessas apólices, explica Gualinga, têm finalidade empresarial.
Do CEAMA pedem que os territórios amazônicos e sua contribuição fundamental sejam respeitados, levando em consideração todas as riquezas que a região possui.
Sobre um dos problemas mais prementes como o extrativismo da mineração, o dirigente equatoriano reconhece que é o novo boom.
“Nos últimos anos, os governos têm promovido a mineração a céu aberto, mas também há mineração ilegal. A CEAMA está acompanhando os processos de luta dos povos, seja na questão da mineração, seja na do petróleo, seja na questão da saúde e nessas vozes que estão aí. Ainda falta mais…”
Para a Conferência Eclesial da Amazônia, “é uma coisa nova, todo mundo pergunta o que é o CEAMA”. O papel desta instituição consiste em “dar aquela Igreja com o rosto da Amazônia, com o rosto do povo onde vivemos”, destaca Gualinga. “Então, ele observa, é um desafio muito grande que estamos construindo, vendo as formas, ouvindo, mas é todo um processo que iniciamos”.
“As pessoas não querem gerar uma consciência de cuidado com o meio ambiente”
A reunião desta quinta-feira, 1º de junho, aconteceu poucos dias após o encerramento da Semana Laudato si’ . Gualinga destaca o esforço de advocacia feito pela CEAMA para alcançar uma sociedade mais justa, sem esquecer a sua espiritualidade, através da cosmovisão dos povos originários, mas unidos a todos “a grande espiritualidade que é a presença de Deus”.
No entanto, lamenta que “as pessoas não queiram gerar consciência de cuidado ambiental”. Questionada sobre o motivo, garante que “o mercado invadiu-nos, disse-nos que tudo era possível e o que fez foi, de alguma forma, destruir a criação, que é tão bonita”.
Programação
O encontro com o Papa se soma a uma extensa lista de encontros, que incluem visitas aos Departamentos da Cúria Romana e a exibição do documentário Anamei na terça-feira, 6 de junho, às 17h, no Palazzo San Callisto, em Roma.
Anamei é um termo que vem do povo Harakbut, da região de “Madre de Dios”, no Peru. Em sua visão de mundo, representa a árvore da vida e da salvação. O filme narra a luta dos povos originários pela preservação de seu ecossistema.
Fonte: Vatican News