Por Rosiane Chicuta (CPT Rondônia), com edição de Carlos Henrique Silva (Comunicação CPT Nacional)
Imagens: CPT Rondônia
Realizado por uma rede de diversos povos indígenas, quilombolas e extrativistas, o IV Encontro dos Povos e Comunidades Tradicionais de Rondônia movimentou a Comunidade Quilombola do Forte, município de Costa Marques, de 19 a 21 de agosto, com o tema: Território e Educação: o Grito de todos os Povos.
O encontro foi um verdadeiro chamado, um grito das comunidades tradicionais para se colocarem na frente da luta, pelo reconhecimento de seus direitos, pela denúncia das violações e injustiças, e pela cobrança da enorme dívida do poder público com estas populações.
O grito desses povos e comunidades tradicionais ecoou no Vale do Guaporé, pedindo por atenções básicas, de saúde, de educação, de ação social. Na mística de abertura do encontro, teve visitação a locais históricos do Forte, como a fornalha, onde um número incontável de negros e indígenas escravizados padeceu na construção. A reflexão sobre todo esse passado foi um momento de intensa emoção: pensar em nossos irmãos e irmãs, negros escravizados, indígenas escravizados que tanto sofreram para poder ter monumentos e construções que trazem status para aqueles que invadiram essas terras, essa nação.
Foi também um momento de intensa reflexão sobre o que os povos comunidades tradicionais podem fazer, enquanto pessoas preocupadas com o espaço onde vivem; enquanto seres humanos que buscam o Bem Viver, que é algo visto como não inatingível de forma nenhuma, portanto, algo que podemos alcançar na prática. É a partilha de tudo aquilo que Deus e a natureza nos oferecem, e que nós, seres humanos, povos tradicionais temos como sagrado, destacamos que o bem viver de verdade só acontece quando trabalhamos de forma coletiva, nós temos o básico para que a vida flua da melhor maneira possível.
Os povos e comunidades tradicionais de Rondônia gritam e continuarão gritando para serem vistos, porque conforme a fala da indígena Camila Puruborá: “Rondônia não é terra do agro, Rondônia não é território da monocultura, Rondônia é Terra dos povos e comunidades tradicionais, Rondônia é terra, território dos povos e comunidades tradicionais. Somos mais de 56 povos indígenas e 09 Comunidades Quilombolas, além das comunidades ribeirinhas extrativistas, que são espalhados por esse estado inteiro.”
Nós precisamos fazer ecoar esse grito de preocupação com o meio ambiente, de preocupação com os recursos hídricos, de preocupação com futuro que é agora. E gostaria também de relembrar a fala do José Amaral, indígena Cujubim, de dizer: “Quem pensa que os nossos governantes estão aí para serem bajulados, estão enganados. Nós somos os patrões deles, nós é que os colocamos onde eles então, nós precisamos cobrar e cobrar mesmo, porque eles têm obrigação de atender, eles não estão fazendo favor. E nós, enquanto moradores da região do Vale do Guaporé, vamos continuar fazendo ecoar a nossa voz, demonstrando a nossa preocupação com as ações do presente, lembrando as falhas do passado e traçando a partir de agora um futuro melhor. Um futuro onde as ações sejam de fato voltada para o Bem Viver dos povos e comunidades tradicionais.”
No segundo dia do Encontro, teve noite cultural. O rasqueado, dança tradicional quilombola, envolveu os participantes.
Assim, está sendo tecida uma rede de resistência e luta desde o ano de 2017, quando se iniciou o primeiro encontro na Comunidade Quilombola de Jesus. A rede se estendeu, realizando o segundo encontro na comunidade Quilombola de Santa Fé – Costa Marques, e o terceiro Encontro na Aldeia Aperoi – Seringueiras já sendo ampliado a todo estado de Rondônia. Estamos no quarto encontro da Rede dos Povos e Comunidades Tradicionais, realizada às Margens do Rio Guaporé., sendo três dias de diálogo e articulações visando garantir os direitos básicos ao acesso a seus territórios. Destacamos a questão das regularizações das áreas dos povos remanescentes, pois em Rondônia, dentre as 09 comunidades quilombolas, apenas 02 foram regularizadas.
E Encontro teve continuidade com debates e trabalhos em grupos: Rodas de conversas, trabalhando temas de interesse dos povos, sendo: Território e educação, saúde, mulheres, juventude e estratégias de fortalecimento da Rede.
Como marco histórico da rede dos povos, o Encontro foi finalizado com uma audiência pública, convocada pela dep. Estadual Cláudia de Jesus (PT), tendo participação de diversos órgãos públicos, que ouviram o grito dos povos na busca de solucionar os problemas que ameaçam e desamparam os povos.
Em carta, a Rede dos Povos do Estado de Rondônia denunciou e exigiu a URGENTE demarcação dos territórios dos parentes indígenas, quilombolas, extrativistas, ribeirinhos, camponeses que ainda não tiveram este direito humano básico garantido. Também cobrou que tenham respeito aos territórios já demarcados, com garantia de segurança e integridades destes espaços sagrados de bem viver. A Rede responde ao intento de criar uma articulação ao estilo da Teia dos Povos do Maranhão e da Teia da Bahia, para unir forças entre indígenas, quilombolas, seringueiros e ribeirinhos do estado de Rondônia.