Por Comunicação da REPAM
Encerrou na última sexta-feira (08/11), em Puyo, na Amazônia equatoriana, o encontro do Comitê Ampliado da Rede Eclesial Pan- Amazônica (REPAM).
Participaram representantes das Redes Nacionais da Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana Francesa, Peru e Venezuela, além de integrantes dos Núcleos Temáticos e instituições irmãs da Europa. Pelo Brasil participaram Dom Evaristo Spengler – Presidente de REPAM-Brasil e a Ir. Maria Irene Lopes dos Santos – Secretária Executiva.
Dom Evaristo Spengler, presidente da REPAM-Brasil e bispo da Diocese de Roraima, que participou do encontro, ressaltou que o momento foi uma oportunidade de refletir sobre os desafios e avanços da missão da igreja na região. Segundo ele, constatou-se que a situação da Amazônia hoje está pior do que há 10.
“Nós fizemos uma profunda análise, aqui em Puyo, aos 10 anos da REPAM, e percebemos que a situação social e ambiental da Amazônia está pior do que há 10 anos atrás. A Igreja está mais organizada, as entidades estão trabalhando em rede, mas ainda não consegue deter o poder econômico que avança com muita força. Consequência desse poder econômico pode-se dizer que é o desmatamento e a degradação Florestal da Amazônia. Cada vez mais se percebe o fogo está tomando conta da Amazônia, e consequência disso, o clima vai mudando, há um aquecimento global, uma crise ambiental como nós não vimos anteriormente”, finalizou.
Outro assunto em pauta foi o avanço do garimpo, que tem deixado muitos males às populações amazônidas. “nesse encontro se colocou muita evidência aos males do garimpo ilegal, pois a mineração tem deixado resíduos nos nossos rios, nos nossos ares, nas nossas terras. Os rios da Amazônia estão todos contaminados de mercúrio, que muitas vezes vem de países fronteiriços,” ressaltou.
Dom Evaristo lembrou ainda, que a Amazônia está interligada e os povos cada vez mais estão tendo ameaças a sua saúde. “quem come peixe hoje regularmente na Amazônia está ingerindo o mercúrio que se torna cada vez mais alto em seu organismo, e já há uma previsão de que haverá povos, haverá pessoas indígenas andando de cadeira de roda no meio da floresta, por causa da sua situação neurológica, então é muito preocupante”.
Em 2023, a presidência da REPAM-Brasil, visitou 13 ministérios, e outras organizações em Brasília, para apresentar essa situação da Amazônia. Em 2024, o governo Federal entregou à Rede um caderno de respostas com ações que vários ministérios prometem fazer para solucionar esses problemas. Todas essas ações estão sendo acompanhadas de perto por representantes da REPAM-Brasil. Além disso, a Rede pretende acompanhar a ação dos governos estaduais, porque em muitos lugares não há nenhuma preocupação ambiental, mas um incentivo ao desmatamento, a invasão das terras e dos territórios indígenas, ao uso do garimpo.
Os próximos 10 anos
Diante dos desafios apresentados, a REPAM vai planejar uma campanha em defesa da água, que está cada vez mais poluída. Segundo Dom Evaristo, a água é um direito vital do ser humano, e na Amazônia que é o maior reserva de Água Doce do planeta, muitos povos que moram às margens dos rios não têm água potável para tomar.
Outra atividade pensada é uma ação de combate ao desmatamento e a degradação ambiental. “Nós não podemos permitir que cheguemos além desse ponto de não retorno, quando já não há mais como conter essas mudanças climáticas. Hoje nós percebemos que as consequências desses momentos de seca profunda na Amazônia em outros momentos chuva intensa que alagam muitas comunidades já é uma consequência dessa crise ambiental que nós estamos vivendo”, declarou.
Dom Evaristo enfatizou que ainda não se tem uma consciência clara de que a Amazônia, não é só para Amazônia, mas ela é um regulador de clima do mundo. Portanto, interessa a São Paulo, ao Rio de Janeiro, ao Rio Grande do Sul, a Goiás, ao Uruguaia, a Buenos Aires, porque todos vão sofrer as consequências do clima se não houver atenção e cuidado com toda a Amazônia.
COP 30
Sobre a participação da REPAM na COP 30, Dom Evaristo mencionou que a Rede estará presente nos debates, mas que mais importante do que o momento da COP é preparar os povos originários da Amazônia para participarem, e terem consciência dos seus direitos. “Os governos podem até levar avanços, melhorias para os povos, mas não leva a consciência. A igreja tem esse dever, e cada vez mais, e REPAM está investindo nisso, de formar grupos de base fazendo essa consciência, e levando projetos que possam ser sustentáveis para a Amazônia”.
Também há um desejo de influenciar no documento final da COP, para que se possa continuar acompanhando os povos originários da Amazônia. Isso é uma tarefa que a REPAM se propõe a fazer permanentemente.
Foto: Fiama Tonhá