O futuro da Amazônia passa pelas mãos dessas mulheres, que desafiam as estruturas impostas e criam novas possibilidades para si e para suas comunidades. O caminho é de resistência, mas também de esperança
Adriana Ribeiro Francisco

A defesa da Amazônia e de seus povos tem sido historicamente protagonizada por mulheres que, apesar das adversidades, encontram maneiras de resistir, proteger seus territórios e preservar modos de vida sustentáveis. Como mulher preta e periférica, nascida em São Paulo, minha jornada me trouxe até o Amazonas, onde vivo há alguns anos e acompanho de perto as dinâmicas das comunidades locais, seus desafios e as vozes femininas que se erguem em meio a um cenário de exclusão e luta por direitos.
A realidade amazônica é marcada por uma grande diversidade cultural, reunindo povos indígenas, ribeirinhos, pescadores e populações urbanas em pequenas cidades e vilarejos. No Alto Solimões, onde estou inserida, percebo que as mulheres estão cada vez mais assumindo papéis de liderança, articulando-se para garantir direitos e protagonizar mudanças em suas comunidades. Ainda assim, os desafios são imensos.
A participação feminina nos espaços de decisão tem sido historicamente reduzida, reflexo de uma sociedade patriarcal que marginaliza suas vozes. No entanto, vejo uma evolução nesse cenário. Mulheres que antes apenas acompanhavam as reuniões, sem possibilidade de fala, hoje conseguem se expressar e reivindicar direitos. O acesso a movimentos coletivos femininos fortalece a luta, promovendo a troca de experiências e criando redes de apoio essenciais para o empoderamento dessas lideranças.

Um dos maiores desafios para as mulheres amazônicas é a regionalidade e a falta de visibilidade. Quanto mais afastadas dos centros urbanos e das redes de apoio, mais difícil se torna sua inserção nos espaços políticos e institucionais. Isso não significa que não haja lideranças femininas atuantes, mas sim que muitas dessas mulheres enfrentam barreiras para que suas vozes sejam ouvidas. O idioma também é um fator determinante: muitas mulheres indígenas, por exemplo, não falam português fluentemente, o que historicamente limitou sua presença nos processos de decisão.
Nos últimos anos, iniciativas de capacitação e incentivo têm ampliado a participação dessas mulheres. A chegada de projetos que buscam incluir lideranças femininas em decisões comunitárias e políticas trouxe um novo panorama. Hoje, vemos filhas e netas de mulheres que antes estavam nos bastidores assumindo papéis centrais, levando adiante as reivindicações por direitos e sustentabilidade.
No entanto, a resistência não está isenta de desafios. O machismo estrutural ainda limita a atuação das mulheres, exigindo delas uma imposição constante para serem reconhecidas como lideranças. Muitas vezes, elas enfrentam resistência não apenas dentro de suas comunidades, mas também nas instâncias governamentais e institucionais que determinam as políticas para a região.
A luta das mulheres pela defesa da Amazônia não é apenas ambiental, mas também social e política. Elas estão na linha de frente na proteção das florestas, no acesso à saúde, na busca por saneamento e na preservação dos modos de vida tradicionais. São elas que muitas vezes denunciam os impactos da exploração ilegal de recursos, da contaminação das águas e da grilagem de terras.
Essa caminhada ainda tem muito a avançar, mas o fato de haver mais mulheres participando ativamente já é um sinal de transformação. Acredito que o futuro da Amazônia passa pelas mãos dessas mulheres, que desafiam as estruturas impostas e criam novas possibilidades para si e para suas comunidades. O caminho é de resistência, mas também de esperança. E, cada vez mais, suas vozes ecoam na defesa deste território essencial para o planeta.
Se a Amazônia é o coração pulsante da Terra, são essas mulheres as artérias que garantem sua vida, nutrindo-a com coragem, sabedoria ancestral e determinação. Elas não apenas resistem – elas reinventam, curam e constroem um futuro possível para todos nós.