No Dia Mundial da Saúde e Segurança no Trabalho, 28 de abril, a REPAM (Rede Eclesial Pan-Amazônica) chama atenção para os riscos enfrentados por trabalhadores da cadeia do açaí — atividade essencial para a subsistência de milhares de famílias ribeirinhas na Amazônia.
A colheita do açaí é tradicionalmente realizada em condições desafiadoras. Trabalhadores, conhecidos como peconheiros, escalam árvores que podem ultrapassar 20 metros de altura, muitas vezes sem equipamentos de proteção adequados. Em regiões como o município de Afuá, no arquipélago do Marajó (PA), as condições de trabalho são ainda mais severas, afetadas pelo calor extremo e pela falta de manejo adequado dos açaizais.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), acidentes em atividades rurais são responsáveis por cerca de 170 mil mortes por ano no mundo, e o extrativismo de frutos, como o açaí, é considerado de alto risco em regiões tropicais.
Márcio Lopes, conhecido como Marcinho, ribeirinho do rio Guajará, em Afuá, vive essa realidade no dia a dia:
“O perigo começa lá atrás, no jeito que o açaizal é trabalhado. Quando o açaí é nativo, as palmeiras são muito altas e escorregadias, ainda mais na chuva. A chance de cair é muito maior”, explica. “Aqui na minha região, já vi gente perder a vida. Um colega caiu cortando o cacho e acabou se ferindo gravemente com o próprio teçado. Não resistiu.”
Além dos riscos de queda e acidentes com ferramentas, as condições climáticas extremas também impactam diretamente a saúde dos trabalhadores:
“Quando é verão forte, no açaizal de manejo, a gente não aguenta trabalhar depois das dez da manhã. O calor é demais, parece que queima a pele. Sem proteção, não tem como colher. E isso afeta até o preço do açaí, porque a produção diminui”, conta Marcinho.
Para melhorar a segurança dos trabalhadores, medidas simples e eficazes podem ser implementadas: manejo correto dos açaizais para reduzir alturas perigosas, manutenção regular dos equipamentos como a pecônia e o teçado, uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) — botas, luvas resistentes, camisas de manga longa e proteção solar — e campanhas de orientação sobre os horários mais seguros para o trabalho.
Marcinho destaca a importância dessas medidas:
“Hoje, quem tem condição já trabalha com calça, bota, camisa de proteção e boné adaptado. Mas nem todo mundo tem acesso. Se todo mundo tivesse as ferramentas certas e o açaizal bem cuidado, muita tragédia seria evitada.”
A REPAM reforça: é fundamental reconhecer e valorizar quem faz parte da cadeia produtiva do açaí, garantindo saúde, dignidade e segurança no trabalho — princípios básicos para uma Amazônia viva e sustentável.