A XII Romaria da Terra, das Águas e das Florestas de Rondônia foi realizada em Costa Marques, na fronteira com a Bolívia. Dom Benedito Araújo, bispo de Guajará-Mirim: “nós nos debruçamos em torno dessa temática em romaria, caminhando”, inspirados na Laudato si’ do Papa Francisco. “A fé que nos trouxe aqui” também foi encorajada pela “resistência de tantos guardiões da casa comum; missão que continua custando perseguições e perda de vidas pelos testemunhos contra a violação da natureza”.
Andressa Collet – Vatican News
O pequeno município de Costa Marques, em Rondônia, fica a cerca de 10 horas da capital Porto Velho, mas faz fronteira com a Bolívia, tem pouco mais de 10 mil habitantes e é banhado pelo Rio Guaporé – conhecido justamente por ser “a princesinha do Guaporé”. Pela conscientização em preservar os dons da natureza local, que no último domingo (20/10) foi realizada a XII Romaria da Terra, das Águas e das Florestas de Rondônia. Segundo Dom Benedito Araújo, bispo de Guajará-Mirim, o segundo maior município do estado em extensão territorial, a iniciativa contou com representantes de diversas dioceses da região noroeste e também do Brasil, num “momento ímpar para a história da Igreja local” promovido na Basílica Menor do Divino Espírito Santo, em Costa Marques.
A romaria foi motivada pelo tema “Ouvir e comprometer-se com as dores e as lutas dos povos e da mãe natureza”, num convite a louvar pela criação “como um mistério sagrado neste chão da Amazônia”, refletiu o bispo em homilia. Dom Benedito também fez menção à “grande festa que, ao longo de 50 dias – da Páscoa ao Pentecostes – através da Romaria Fluvial sob a responsabilidade da Irmandade do Senhor Divino, são visitadas as comunidades ribeirinhas, quilombolas e indígenas do Brasil e da Bolívia”. São viagens desafiadoras que testemunham um cenário repleto de questionamentos:
“Justamente por conta da inspiração da Laudato si’, do n. 53, que diz que são muitas as ‘situações provocam os gemidos da irmã terra, que se unem aos gemidos dos abandonados do mundo, com um lamento que reclama de nós outro rumo. Nunca maltratámos e ferimos a nossa casa comum como nos últimos dois séculos. Mas somos chamados a tornar-nos os instrumentos de Deus Pai para que o nosso planeta seja o que Ele sonhou ao criá-lo e corresponda ao seu projeto de paz, beleza e plenitude’. De forma que, inspirados na Laudato si’ e nas preocupações no pastoreio do nosso querido irmão Papa Francisco, nós nos debruçamos em torno dessa temática em romaria, caminhando”.
“A fé que nos trouxe aqui e nos move nesta luta”, continuou dom Benedito, também foi encorajada pela “resistência de tantos irmão e irmãs, guardiões da casa comum; missão que continua custando perseguições e perda de vidas pelos testemunhos e vozes que se levantam contra a violação da natureza sem limites”. Diante da urgência do cuidado com a casa comum, “Jesus deixa claro que a importância fundamental é o serviço e não a imposição. Amar e servir são regras de ouro para quem crê e se coloca a serviço do Reino de Deus e da justiça”.
Em defesa da casa comum e dos vulneráveis
Dessa forma, o bispo de Guajará-Mirim alerta para as “irresponsabilidades” e maus comportamentos locais diante da degradação do meio ambiente, que também afetam os mais frágeis e vulneráveis. Dom Benedito cita em homilia os conflitos territoriais com invasão e exploração de recursos naturais, indígenas assassinados, assim como os casos de enchentes, secas e queimadas pelo Brasil inteiro:
“Em 2024, o Brasil registrou aumento de 104% nos focos de queimadas, muitos orquestrados, incentivados e portanto criminosos. Passamos quase dois meses em Rondônia sem ver o céu, as estrelas, era só fumaça; as terras indígenas cada vez mais vulneráveis, invadidas e exploradas ilegalmente inclusive com a cooptação de alguns de seus líderes; alguns postos policiais abarrotados com apreensão de madeira apreendida ilegalmente.”
“Para muitos queimar é normal; a fumaça é normal; a seca dos rios é normal; envenenar os rios, o solo freático é normal; destruir as nascentes, os mananciais é normal; a invasão das terras protegidas por lei é normal; a invasão e extinção dos biomas é normal; a extinção das espécies é normal; e o pior de tudo, quando chega a tragédia, a dor, a desgraça, colocam a culpa em Deus e continuam afirmando que é normal em vista do desenvolvimento e do progresso. E jamais pensam na sustentabilidade e nas futuras gerações”, finalizou dom Benedito Araújo, bispo de Guajará-Mirim.
Por: Andressa Collet – Vatican News
Reprodução: Vatican News