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Fomentar e cuidar as vocações indígenas é um desafio para a Igreja da Amazônia. Aos poucos essas vocações vão surgindo e vão avançando em seu processo formativo. Genilson Morais e Hércules Vitorino são seminaristas da Diocese de Alto Solimões. Nascidos no município de São Paulo de Olivença, Genilson é do Povo Kokama e Hércules do Povo Ticuna. Ambos vão começar o 3º Ano de Filosofia no Seminário São José da Arquidiocese de Manaus, onde se formam os seminaristas das 9 dioceses e prelazias do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

Hércules vê o ser seminarista como “um espelho para o indígena”, e junto com isso poder mostrar “como fazer realidade um padre indígena”, poder “mostrar a fé do povo ticuna e mostrar a fé ao povo ticuna”. “Mostrar para as pessoas que a gente tem coragem de ser seminarista”, acrescenta Genilson, que diz que o seminarista indígena “muitas vezes tem vontade de estar no seminário, mas as pessoas pensam que a gente não tem capacidade”. Ele insiste na importância do seminarista indígena estar no meio de outras pessoas “para também dar coragem aos outros, para também eles se sentirem tocados e descobrir que eles são capazes de entrar no seminário”.

Diante da possibilidade de um dia ser padre indígena ticuna, Hércules destaca como é legal “quando a gente volta para a aldeia, o povo fica olhando para o seminarista que retorna para ser padre”. Ele destaca a importância dos padres indígenas no trabalho evangelizador desde a interculturalidade, algo que considera diferente ao trabalho de outros padres não indígenas. Nesse sentido, Hércules destaca as mudanças que acontecem a partir da cultura, mesmo reconhecendo que o Espírito de Deus é o mesmo.

Genilson destaca como o povo de suas comunidades fica bem animado quando eles voltam. Mesmo sendo de outro povo, ele ressalta que “as pessoas ficam bem felizes porque sentem tocados, um de nós está lá, e agora é padre”, o que leva o povo todo a ficar animado, segundo o seminarista do Povo Kokama. Algo que mexe com as outras pessoas, que as leva a sentir interesse para que seus filhos sejam padre, sejam tocados pelo chamado de Deus. Um padre indígena que está mais presente com sua comunidade, ajudando, a comunidade fica também animada quando tem um padre indígena, que entende a sua cultura, que estende os seus rituais. Daí a importância de se formar para isso, destaca o seminarista Genilson.

Os seminaristas estão sendo fonte de inspiração vocacional para outros jovens indígenas, algo que leva o seminarista Hércules, tendo em conta o 3º Ano Vocacional que está sendo realizado no Brasil, a falar da importância de chamar os jovens para ser vocacionados, seminaristas, religiosos, mas também para outras vocações, pois “esse chamado de Deus é a situação mais importante que existe”, segundo Hércules, que diz que “eu que vou animar eles, eu que vou dar um conselho para eles, desde a cultura e as comunidades do Alto Solimões onde eu vivia”.

“A Igreja também anima as comunidades para se despertar para encontrar vocações”, afirma Genilson, que vê essa animação vocacional como oportunidade para conhecer as diferentes vocações. De fato, o seminarista diz que “a comunidade também ajuda para despertar vocações”, algo que acontece nas convivências vocacionais, onde “você se sente tocado a viver essa experiência vocacional e cada dia mais focar no chamado de Deus”.

Recentemente os dois seminaristas participaram I Experiência Vocacional Missionária “Pés a Caminho”. Hércules diz em relação com esse momento que “eu me despertei que um dia se Deus quiser vou ser padre”, sendo essa uma oportunidade para pensar em como organizar o jeito de Jesus que ensina o povo, onde Jesus pregava o Evangelho, onde Jesus foi, como Jesus vai conhecendo, o que o levou a pensar em sua vida e caminhada, que o leve a estar mais próximo de Deus e ter a vontade de realizar a missão.

Nas visitas durante a experiência missionária e nos testemunhos escutados, Genilson diz que “esse testemunho me despertou cada dia mais para continuar enfrente, porque vendo o testemunho na experiência vocacional, desperta cada dia o chamado ardente de Deus”. Também destaca que foi oportunidade de conviver e conhecer a realidade do povo, para despertar o sentido de sua caminhada vocacional e sempre continuar em frente nessa caminhada.

Refletindo sobre o trabalho que está sendo realizado com o Povo Ticuna pela paróquia São Francisco de Assis de Belém do Solimões, onde a dimensão intercultural está sendo muito valorizada, o seminarista Hércules diz que na sua paróquia é muito importante que nas comunidades, como acontece na sua, é o povo mesmo que faz parte do grupo dos missionários e missionárias, algo que tem se espalhado nas comunidades. Segundo ele, “a vontade de Deus, o ensinamento de Jesus é muito valorizado na minha aldeia”.

Um trabalho pastoral durante o ano que no caso do seminarista Genilson. Que acompanha realidades indígenas na cidade de Manaus, faz com que ele possa ir “conhecendo muitas realidades diferentes”, insistindo em que “a vida dos povos indígenas em Manaus ajuda a gente a estar unido em um laço”, destacando que vai sendo um trabalho diferente para que “também eles possam compreender que nós da Igreja católica fazemos uma catequese desde o conhecimento de cada um”. Um trabalho que ajuda na sua vocação, conhecendo a realidade de cada povo, que tem sua cultura e tradição, algo que é incentivado a realizar para que não acabe sua cultura, para que continuem suas danças, músicas e tradições.

Fonte: Luis Miguel Modino – Comunicação CNBB Norte I da CNBB 

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