Mais de 100 Congregações e Conferências de Religiosos em sete países assinam um manifesto que clama por um modelo de desenvolvimento pós extrativista que respeite os povos e a Casa Comum.

Monsenhor Bruno-Marie Duffé, ex secretário do Dicastério para Desenvolvimento Humano Integral, junto a comunidade de Brumadinho, vítima de um dos crimes mais violentos da mineradora Vale, no Estado de Minas Gerais, Brasil.

Encerrado há duas semanas, o processo presencial da Assembleia Eclesial da América Latina atualizou as Conferências Continentais da Igreja Latino Americana em clave sinodal. A preocupação com os pobres e com a Casa Comum, ambos vitimados pelo atual sistema econômico, se apresenta entre os desafios e as opções da Assembleia ao propor a conversão pastoral através de uma Ecologia Integral.

Em comunicação prévia ao evento que ocorreu de forma híbrida com a etapa presencial na Cidade do México, mais de 300 organizações eclesiais e movimentos populares se uniram ao chamado feito por papa Francisco durante o  IV Encontro com Movimentos Populares: é tempo de parar a locomotiva que nos leva ao abismo. Em manifesto intitulado “Frente a uma economia de morte construamos uma Economia Samaritana”, as entidades propõem a construção de “decisões coerentes nas práticas financeiras e de consumo, na políticas econômicas e de investimentos para que promovam os direitos humanos, a justiça social, climática e ambiental, a equidade de gênero e o bem comum, de acordo com o mandato divino de proteger a criação (Gn 2.15).

Entre as organizações impulsionadoras do chamado por uma economia “que atue como instrumento da ação missionária da Igreja” estão mais de 100 congregações religiosas e as conferências nacionais de religiosos e religiosas no Brasil, Argentina, Bolívia, Guatemala, El Salvador, Equador e República Dominicana . “Assumimos um compromisso profético para ajudar a transformar o modelo económico de desigualdade”, sustenta o documento.

Em continuidade a iniciativa, ao ressoar o processo sinodal da Assembleia Eclesial, e com o objetivo de construir uma agenda de trabalho para 2022, a Confederação Latinoamericana de Religiosos (CLAR) e a Rede Igrejas e Mineração convidam os institutos de vida consagrada ao webinar “Vida religiosa en América Latina: construir caminos para cuidar de la Casa Común frente a la violencia de las economías extractivas”. O encontro acontecerá no dia 07 de dezembro, terça-feira, às 10 horas Colômbia e reunirá Comissões de Justiça, Paz e Cuidado da Criação (JPIC) que trabalham na América Latina. A reunião busca planejar atividades em rede em prol da Ecologia Integral e a Economia Samaritana como respostas ao grito da terra e ao grito dos pobres, a partir da perspectiva da vida religiosa na América Latina.

Manifesto por uma Economia Samaritana

Lançado na semana antecedente a Conferencia de las Naciones Unidas sobre el Cambio Climático (COP26), em comunhão com a Assembleia Eclesial para América Latina em Caribe e em consonância a Plataforma de Ação Laudato Si, o manifesto reflete sobre os projetos de extração econômica e outras indústrias que destroem e poluem (cf. QA 49) e ressoa o pedido do papa Francisco às “corporações extrativistas – mineradoras, petrolíferas, florestais, imobiliárias, agroindustriais – que deixem de destruir florestas, pântanos e montanhas, que deixem de poluir rios e mares, que deixem de envenenar pessoas e alimentos”. No caminho de propor alternativas, o documento faz menção a Campanha de Desinvestimento em Mineração, que propõe conversão ecológica do ponto de vista econômico. Presente nos mais longínquos espaços, como sinal de esperança e profetismo, a vida religiosa

Animada pela Rede Latino Americana Igrejas e Mineração em coparticipação com dezenas de organizações – entre elas a Confederação Latinoamericana de Religiosos (CLAR) – a campanha busca responder ao compromisso assumido no documento final do Sínodo da Amazônia celebrado em Roma em outubro de 2019. “Asumimos y apoyamos las campañas de desinversión de compañías extractivas relacionadas al daño socio-ecológico de la Amazonía, comenzando por las propias instituciones eclesiales y también en alianza con otras Iglesias” (70, Documento final – Sínodo da Amazônia). O manifesto afirma que o desinvestimento em mineração propõe um ato de coerência ética dentro das igrejas e suas instituições. “Ajuda-nos a não sermos cúmplices na destruição da Casa Comum e a estar ao lado de muitas comunidades que sofrem os impactos do extrativismo”, afirmam as mais de 300 entidades signatárias.

Um convite às Congregações Religiosas

São muitas as vozes proféticas na América Latina. Entre os ecos que ressoam estão centenas de religiosas e religiosos que sentem “fome e sede de justiça” (Mt 5,6) e que tem entre os temas de  acompanhamento às comunidades afetadas pela mineração em grande escala. Atualmente, segundo o Mapa de Conflito Mineiro da América Latina (OCMAL), são mais de 280 realidades martirizadas com mais de 300 projetos de mineração envolvidos. São casos de criminalização de lideranças, conflitos territoriais, violação nas consultas prévia e informada para instalação da mineração nos territórios e 162 deles dizem respeito ao acesso de água pelas comunidades. No Brasil, por exemplo, segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), a mineração é a principal responsável por conflitos envolvendo água, afetando 70 mil famílias em 2019.

A rede Igrejas e Mineração e mais de 20 entidades aliadas assumem o compromisso de seguir promovendo conjuntamente e facilitar reflexões e acompanhamento sobre impactos da mineração nos territórios. Através da Campanha de Desinvestimento em Mineração, o grupo de organizações e as comunidades martirizadas por esse modelo econômico convidam as instituições eclesiais – congregações, dioceses, paróquias e outros – a refletir sobre suas decisões éticas de investimentos e relações com bancos e os modelos de impactos sociais causados por esses.

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