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Imagem: Blog Povo Ticuna de Belém do Solimões

No dia 27 de janeiro, começará o 11º Festival de Cultura Indígena do EWARE, um evento de grande significado para as comunidades indígenas da região. Frei Paolo Maria Braghini, que vive na aldeia com outros Frades Menores Capuchinhos e tem acompanhado de perto os desafios e as conquistas dos povos indígenas, falou sobre as motivações do festival, seus objetivos e expectativas. 

Motivações do Festival

O Festival de Cultura Indígena do EWARE nasceu com o objetivo de educar e valorizar as culturas locais, especialmente para as novas gerações. Frei Paolo explicou que o festival é voltado para dentro das comunidades, não para o turismo. 

“É um festival que envolve as comunidades para as próprias comunidades, principalmente para as novas gerações que, por conta da globalização, estão perdendo sua cultura. Na internet, eles não encontram sua cultura, só o que é de fora. Encontram muito pouco sobre os indígenas”, destacou o Frei. 

O resgate cultural é um dos principais pilares do evento, que busca recuperar o vasto patrimônio das comunidades em todas as suas dimensões: mitologia, vestimentas, pinturas corporais, cantos, danças, artesanato e outros aspectos fundamentais. 

A Centralidade da Ecologia

Desde 2022, com o início do AJURI de Ecologia Indígena o festival tem integrado a temática ecológica em sua programação. Frei Paolo explica que a ecologia se tornou uma necessidade urgente para todas as etnias da região. 

“O tema dos últimos festivais tem claramente uma temática ecológica. A água e as mudanças climáticas são problemas que as comunidades estão sofrendo diretamente”, afirmou. 

As atividades incluem oficinas práticas sobre o uso sustentável da água, reciclagem, construção de viveiros e trocas de mudas e sementes. 

Prevenção e Resistência

Um dos objetivos principais do festival é atuar na prevenção de problemas sociais, como drogas, alcoolismo e suicídio. “Estamos abandonados pelo governo”, disse Frei Paolo. “Trabalhamos para a prevenção porque é impressionante como essas questões têm afetado as comunidades e o governo não enxerga isso. Sinceramente, se não fosse a presença da Igreja Católica, o povo estaria abandonado.” 

Protagonismo Indígena na Organização

Desde o início, o festival tem contado com a participação ativa das comunidades indígenas na sua concepção e realização. Frei Paolo explicou que o trabalho da Paróquia Indígena São Francisco de Assis, liderada por Frades Capuchinhos que vivem na aldeia, é baseado na escuta atenta das demandas das comunidades. 

“Juntos com o conselho pastoral, que é totalmente indígena, tudo é decidido e executado em conjunto. Hoje, com muita alegria, entregamos totalmente a responsabilidade da organização do festival e das Olimpíadas Indígenas para as associações locais, como a Fundação da MAPANA (Associação de Mulheres Indígenas) e a ADACAIBS (Associação de Desenvolvimento Artístico Cultural da Aldeia Indígena de Belém do Solimões)”, afirmou o Frei. 

Expectativas para 2025

As expectativas para esta edição do festival são muitas. Frei Paolo destacou a importância de fortalecer o protagonismo das associações indígenas e valorizar as culturas locais, especialmente entre os jovens. 

“Todos os festivais são divulgados nas redes sociais para que, quando o jovem indígena pesquisar na internet, encontre também a sua cultura. Isso ajuda muito na autoestima”, afirmou. 

Além disso, duas importantes assembleias serão realizadas: a Assembleia Geral dos Caciques, que tratará da invasão de territórios, e a Assembleia Geral Eletiva da OGPTB, que abordará a questão crítica dos professores bilíngues. 

“Outro problema gravíssimo é a educação. Não está funcionando e precisamos discutir isso”, ressaltou Frei Paolo. 

Uma Mensagem de Valorização

Para Frei Paolo, o festival também é um lembrete para a sociedade: “Cada cultura é um dom de Deus que deve ser valorizado. Não é porque é uma minoria que é pior ou não tem valor. Existem culturas muito pequenas que têm muito a ensinar.” 

O Festival de Cultura Indígena do EWARE é mais do que uma celebração; é um ato de resistência, um espaço de aprendizado e um chamado à valorização das tradições que fazem parte da riqueza cultural e espiritual da Amazônia.

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