Nesta Semana Laudato Si’ (19 a 23 de maio), a REPAM-Brasil publica uma série de reflexões que ecoam o chamado à ecologia integral a partir da Amazônia.
Dez anos após a encíclica do Papa Francisco, escutamos vozes que, com coragem e compromisso, vivem no cotidiano o cuidado com a Casa Comum.
Abrimos a série com Dom Pedro Brito, que compara a Laudato Si’ a uma pérola preciosa: um legado que precisa ser descoberto, vivido e defendido com urgência.

Por Dom Pedro Brito
Quero, antes de tudo, deixar o meu profundo Laudato Si, querido e amado Papa Francisco — de saudosa memória — por ter deixado à Igreja e ao mundo esse presente, essa herança, esse verdadeiro testamento espiritual: a encíclica Laudato Si’. A natureza agradece. A vida agradece. Laudato Si.
Nestes 10 anos desde sua publicação, o que mais me impressiona é como a encíclica se tornou um marco de consciência ecológica global. Basta olhar para os desastres ecológicos que, em todos os continentes, vêm ceifando vidas, destruindo estruturas e plantações, rompendo o equilíbrio da criação. Diante disso, é impensável — ou até uma forma de insanidade mental — seguir falando de qualidade de vida e desenvolvimento sem considerar a convivência, a adaptação, a mitigação e, sobretudo, a conversão socioambiental.
A Laudato Si’ foi — e ainda é — um estalo, um sinal profético, uma convocação. Ela sacudiu a Igreja, sensibilizou a sociedade e iluminou o mundo. Por isso, acredito que uma releitura da encíclica é urgente para aqueles que já a conhecem, e uma primeira leitura é indispensável para quem ainda não teve esse encontro com a beleza e a gravidade de seu conteúdo.
Na nossa realidade amazônica, buscamos traduzir essa espiritualidade ecológica em gestos concretos. Optamos por um desenvolvimento com sustentabilidade, e isso se manifesta de várias formas: instalamos energia solar em todas as nossas estruturas eclesiais, criamos os Guardas Ecológicos, promovemos os quintais produtivos e organizamos coletas seletivas de resíduos. É um processo ainda em construção, mas que já mostra sinais de compromisso com a ecologia integral.
A voz da Amazônia precisa ser escutada com o coração. Papa Francisco a chamou de “Querida Amazônia” — e esse termo carrega um duplo sentido que nos inspira: é amada e é desejada. É preciso amar e desejar a Amazônia, sonhar com ela e com tudo o que ela representa. O mundo precisa aprender com seus povos originários, com sua sabedoria ancestral, com sua espiritualidade profundamente conectada com a criação.
Se eu tivesse que resumir a Laudato Si’ em uma imagem, diria que ela é como aquelas parábolas que Jesus contou: a do tesouro escondido e a da pérola preciosa. Precisamos estar dispostos a vender tudo o que temos para adquiri-las. Ou seja, é preciso renunciar a velhos hábitos, interesses e práticas que ferem a Casa Comum para abraçar um novo modo de viver — mais simples, mais fraterno, mais solidário.
Que cada um de nós possa assumir esse legado. Que cada cristão, cada liderança, cada comunidade se comprometa com os ensinamentos da Laudato Si’. E que o Espírito continue soprando onde quer, especialmente aqui, no coração da Amazônia.