Por Rosa M. Martins
REPAM- Brasil
O medo dela é bem aquém da sua estatura. De envergadura baixa, Alessandra tem feito valer a etnia dos Munduruku, que costumam ter uma beleza única, sem par: o sorriso largo, a tez morena, a simpatia, e uma teimosia e coragem gigantes quando se trata da defesa dos povos e da floresta. Eles encantam e contagiam qualquer um. Foi o que aconteceu no IV Encontro da Igreja Católica em Santarém nos dias 6 a 9 de junho próximos passados.
Alessandra, num aperto forte de mão ao arcebispo de Cuiabá, Dom Mário Antônio da Silva, que fazia parte da mesa naquele dia, levantou a voz com entusiasmo de profetiza: “Vocês não estão sozinhos! Nós vamos com vocês nessa luta! Essa aliança entre os padres e os povos têm que continuar para defenderem os povos indígenas, quilombolas, pescadores e todos aqueles que precisam de ajuda”.
Os participantes se emocionaram. Se puseram de pé, a começar por Dom Mário, que num gesto fantástico de acolhida e de sincero “sim”, alçou-se da cadeira e com ele, todos, todos, em prontidão, como deve ser a atitude de uma Igreja em saída e que quer fazer valer o Evangelho de Jesus nas estradas duras e longas da vida.
Aos bispos, presbíteros, religiosas, religiosas, leigos e leigas presentes, Alessandra fez um forte questionamento sobre a forma de evangelizar na Amazônia e especialmente os povos indígenas. “Por que temos que acabar com a fonte que jorra para aquele povo, aquela comunidade? Precisamos pensar muito sobre o que queremos para o povo. Será que é só batismo, casamento? Ou o bem viver do povo que tinha uma água e hoje não tem mais?”, interrogou.
Quem é Alessandra Munduruku
Alessandra Korap Munduruku,34, – da etnia Munduruku, do Pará, é ativista e, como liderança indígena, trabalha arduamente na demarcação do território indígena, denunciando a exploração e atividades ilegais do garimpo, mineração e da indústria madeireira. Reconhecida internacionalmente, Korap ganhou o prêmio Robert F. Kennedy de Direitos Humanos, nos Estados Unidos. É Presidente da Associação indígena Pariri que representa 11 aldeias Munduruku no médio rio Tapajós e vice-coordenadora da Federação dos povos indígenas do Pará.
Sua teimosia e resistência tem custado duras ameaças de morte.. Casada, mãe de dois filhos, já teve sua casa invadida, perseguições nas redes sociais, com sua conta invadida, pedidos para parar as denúncias que vem fazendo. Mas ela não tem medo. “Se quiserem me matar, me matem, porque aonde eu for, eu vou denunciar”.
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