A cidade de São Luís/MA recebeu no último final de semana o Seminário de Escuta em preparação ao Sínodo para a Amazônia promovido pela Rede Eclesial Pan-Amazônica e pela Pastoral Afro-Brasileira. O encontro, voltado para os povos das comunidades quilombolas do Maranhão, do Pará e do Amapá, resultou, além das reflexões sobre o tema “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”, em uma carta, na qual são apresentadas constatações sobre a realidade negra na região e pedidos de maior atenção, respeito e proteção.

Leia na íntegra:

CARTA DE SÃO LUÍS – GRITO DO POVO NEGRO QUILOMBOLA DA AMAZÔNIA

Nós, negros e negras da Pastoral Afro-brasileira, quilombolas e movimento negro dos estados do Amapá, Maranhão e Pará, reunidos no Seminário de Escuta em preparação ao Sínodo para a Amazônia: “Novos Caminhos para a Igreja e para uma Ecologia Integral”, realizado nos dias 25 a 27 de janeiro de 2019, em São Luís do Maranhão, manifestamos gratidão à Rede Eclesial Pan-Amazônica/REPAM-Brasil, aos regionais Nordeste 5 e Norte 2 e à diocese de Brejo pelo empenho na realização deste encontro.

Manifestamos nossa indignação diante do modelo de sociedade e do modelo de desenvolvimento adotado pelo Estado brasileiro, capitalista, predatório, e escravagista que:

Ameaça nossos direitos naturais e civis;

Expulsa e expropria a População Quilombola de seu Território de Pertença;

Promove a invisibilidade da população quilombola na Amazônia, que é ferida aberta pelo racismo, pelo etnocentrismo e o mercantilismo capitalista;

Aumenta estatísticas de violências promovidas por agentes do agronegócio, da mineração, dos madeireiros e demais representantes do capital;

Favorece a permanência de altos indicadores negativos que revelam as desvantagens que nossa população acumula em áreas como direito à terra e ao território, à moradia digna, à saúde e saneamento, à inserção no mundo trabalho, à educação, à cultura e a intolerância religiosa;

Cria estruturas que promovem a destruição do meio ambiente e dos organismos frutos da luta do Movimento Negro do Brasil, o que aponta para o fortalecimento do racismo, com relevância o racismo institucional.

Diante destas constatações, afirmamos à Sociedade, ao Estado e à Igreja que Vidas Negras Quilombolas importam.

Afirmamos que a vida na Amazônia é preciosa aos olhos de Deus e deve ser prioritária na ação estatal e eclesial cristã.

Afirmamos que a Amazônia, região geopolítica de grandeza cultural representada na diversidade de seus povos e comunidades, com enorme riqueza natural representada pelos seus recursos biológicos, minerais, hídricos e solos, de encontro das águas, que fortalece e protege a vida nos campos e nas florestas e liga com o Sagrado. Somos guardiãs e guardiões desta Casa Comum.

Reconhecemos a presença evangelizadora da Igreja na promoção de Vida para Todos, para o Bem-viver. Mas, junto ao povo negro no Brasil, constatamos relevante omissão ao longo dos séculos, neste sentido postulamos:

Uma ação pastoral profética, comprometida com as lutas do povo negro quilombola, para assegurar a sua permanência e o Bem-viver em seus territórios, conforme o Artigo 68 dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição Federal Brasileira de 1988;

Um olhar respeitoso e comprometido com nossa Ancestralidade e nossas especificidades;

Respeito aos protagonismos das mulheres negras e quilombolas nos processos e dinâmicas sociais, políticas, econômicas, ambientais, culturais e religiosas;

Uma Igreja com Rosto Amazônico, ministerial, plural, diversa, profética e não clerical.

Por fim, afirmamos uma Amazônia Negra e que vidas negras quilombolas importam.

Que Mãe Negra Aparecida nos acompanhe na tarefa de conhecer, respeitar e apoiar a População Negra Quilombola.

São Luiz – MA, 27 de janeiro de 2019.

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