Na noite da última terça-feira (06), em uma atividade realizada de forma virtual, 120 pessoas foram formados e enviados pela Campanha A Vida por um Fio de Autoproteção de Comunidades e Lideranças Ameaçadas. Após um processo de quase 4 meses de estudos e partilhas, os formandos foram enviados para continuarem o processo em seus territórios.
Organizada por organismos eclesiais e instituições da sociedade civil a proposta formativa buscou capacitar lideranças que atuam na defesa dos direitos humanos na Amazônia para formarem as comunidades e pessoas nos territórios que vivem sob ameaça.
Na formatura e envio, algumas lideranças partilharam sobre o processo e o crescimento que tiveram na trajetória. Os organizadores e facilitadores do curso e módulos de formação também partilharam as experiências e as conquistas no processo que, inicialmente pensado para o presencial, precisou ser adaptado ao formato virtual em decorrência da situação provocada pela pandemia da Covid-19.
Confira a partilha de Dorismeire Vasconcelos, membro da REPAM-Xingu e articuladora do eixo de Direitos Humanos e Incidência Internacional da Rede, uma das facilitadoras do curso.
Palavras: Paz e Bem!
O Centro Popular de Formação Vida e Juventude junto com a REPAM-Brasil oportunizaram para algumas mulheres e alguns homens, que atuam há um bom tempo, senão na formação mas na ação em defesa dos Direitos Humanos e da Natureza, a missão de sermos facilitadores da Formação Popular de multiplicadores da Campanha a Vida por um Fio. E hoje nos dão a missão de falar dessa missão em alguns minutos. Assim sendo, quero lembrar que: A famosa “última flor do lácio” pronomina FACILITAR sempre como prontificar-se, prestar-se, dispor-se…
Eis o que fizemos, nos prontificamos a dominar as ferramentas tecnológicas, a prestarmo-nos incansavelmente para nos guiar, orientar, contribuir nesse ambiente virtual, por meio de uma pedagogia popular realizada nos trabalhos de base. E labutamos por longos três meses em 5 módulos.
Era preciso inovar, estar aberto ao dialogo e às novas formas de formação tecnológicas e a usar da ousadia e da criatividade para avançarmos em “águas mais profundas” para que cada companheiro e companheira de jornada alcançasse o desenvolvimento da autonomia, valorizando as suas experiências e a dos demais, oportunizando inteiração entre todos, criando e fortalecendo um clima de segurança e respeito.
Cumprimos a missão? Responderia com o texto bíblico do livro de Eclesiastes, capítulo 3: “Há tempo para plantar e tempo para colher”. E nós, facilitadoras e facilitadores, fomos aquelas e aqueles que trabalharam a terra, lançaram a semente para novos frutos germinarem, crescerem e multiplicarem.
Mas, uma certeza se tem: nesta noite, os três meses semeados, não foram apenas um curso on-line técnico. Não mesmo!! Ali se transmitiu conteúdos profundos, mas nada foi mais profundo do que a partilha de vida de homens e mulheres que um dia se depararam com a violação. Não se calaram, não se omitiram e firmes tornaram defensores dos defensores. Trazem em seu coração e na sua alma o amor pela causa. E juntos choramos, nos indignamos, mas também estamos traçando o caminho da colheita de vida para nossos companheiros e companheiras de luta dos vários territórios e comunidades ameaçadas, porque acreditamos, com esses três meses de formação, que não há nada mais digno e louvável da fé e da persistência do que defender a vida junto e com os povos ameaçados.
Por cremos nisso, nada ensinamos, apenas juntamos saberes. Saímos dessa jornada mais aprendizes que sábios, mais comprometidos do que nunca e com a certeza de que estamos no caminho certo da fé e da vida.
“Avancem para águas mais profundas”. É hora, e é agora!
Essa experiência de facilitadores só nos enriqueceu, ao partilharmos nosso tempo com tantos e tantas corajosas e corajosos e audaciosas e audaciosos no cumprimento do projeto de Deus.
E para encerrar uma paráfrase da frase de Dom Helder Camara: “Ótimo que a nossa mão ajudou o vôo… Mas que ela jamais se atreva a tomar o lugar das asas que pertencem a vocês”.
Imensa gratidão!