Dorismeire Vasconcelos, liderança leiga da Diocese do Xingu, participou do Sínodo para a Amazônia como uma das mulheres auditoras. Com toda a sua experiência pastoral, contribuiu com as reflexões da base e também do lugar de mulher que vive os desafios da evangelização num território grande e com um pequeno número de sacerdotes para atender todo o povo. Confira a entrevista com Dorismeire.

 

Como você avalia a presença das mulheres no sínodo?

O Sínodo Especial para Amazônia foi um marco na caminhada das mulheres na Igreja, em especial na Pan Amazônia. Pois em nossa realidade territorial essa presença feminina é forte e é a força que sustenta, articula, mobiliza e faz o agir na missão da Igreja que é o EVANGELIZAR. Por isso neste momento que ocorre o Sínodo em Roma a presença e participação das mulheres são positivas, um testemunho forte de fé e vida, mas acima de tudo de coragem e convicção na defesa da fé e na demonstração de amor a Igreja e a humanidade. Deram um exemplo de competência, garra, coragem e determinação na fidelidade de ecoar ao mundo os que os povos da Amazônia clamaram na busca de novos caminhos que confirme a missão profética, samaritana e pobre da Igreja Peregrina e o reconhecimento de defesa da vida e na garantida dos direitos inalienáveis dos povos,  como guardiãs da Criação.

 

Como o tema das mulheres foi discutido ao longo da assembleia sinodal?

A discussão do tema das mulheres expressou com fidelidade a fé e a vida e ao processo sinodal de escuta dos povos da Pan Amazônia. As vozes femininas ecoaram essa temática ao Papa que acolheu com carinho. E muitas vezes foi um tem defendido com muita coragem por auditores/as, peritos/as e padres sinodais. É reconhecido que a mulher tem um papel fundamental e importante na vida da Igreja e da sociedade. Os documentos da Igreja já afirmam isso na história da Igreja. Essa temática também expressou a realidade local das comunidades amazônicas das quais 70% são coordenadas, articuladas e mobilizadas pelas mulheres, da reza do terço à catequese, da catequese e até o culto do domingo. Atuam nas mobilizações socioambientais na sociedade. Organizam e estruturam as comunidades, mas muitas vezes são silenciadas nos momentos de decisões e instâncias de decisões da vida da Igreja e da Sociedade ou vitimas da violência de um sistema patriarcal, machista do universo masculino. Mas isso, é incoerente com a vivência e pratica da Palavra de Deus que fez homem e mulher a imagem e semelhança de Deus para salvaguardar a humanidade e criação. Foi um dos temas mais abordados junto com a temática da Eucaristia e Inculturalidade.

 

Que avaliação você faz dos resultados acerca do tema das mulheres no sínodo?

Penso que foi um passo importante. A Igreja precisa pensar caminhos para responder a esse clamor que não vem especialmente por parte das mulheres, como muitos pensam. Não é uma reivindicação apenas das mulheres, mas de todas as comunidades pan amazônicas que sabem o valor, a competência, a disponibilidade e a doação de tantas mulheres na vida da comunidade. É hora e agora  a importância do reconhecimento e de  espaços da presença e participação das mulheres nas instâncias de decisões e governabilidade da Igreja e na sociedade. Porque sabemos que nossa Igreja primitiva já vivenciava isso. É hora e agora, momento de novos caminhos e novos ministérios como também um diaconato feminino de serviço às mulheres.

 

Pode-se dizer que esse foi um sínodo das mulheres?

Pode se dizer que neste Sínodo as mulheres marcaram a história da Igreja e a história dos Sínodos com sua presença, ousadia e convicção de fé na certeza de construir como irmãs novos caminhos para evangelização e para uma ecologia integral. Assumimos com fidelidade o amor ao projeto do Pai e compromisso de ecoar ao mundo os que nossos povos querem da Igreja e da Humanidade. Queremos caminhar como irmãs junto aos nossos irmãos leigos, padres, bispos e toda  a sociedade para construirmos caminhos de efetivação da civilização do amor , dom e vocação maior de Deus em busca de uma terra sem males, de um outro mundo possível como se deseja o projeto de amor e vida que Deus desejou e quer para todos seus filhos e filhas amados. Um caminho de sinodalidade, fé, esperança e amor.

 

Que esperanças as mulheres podem ter da Igreja a partir desse sínodo?

Que a Igreja Pan Amazônica, não será a mesma depois dessa riquíssima experiência sinodal. Novos tempos virão. O Espírito Santo conduz-nos desde 15 de outubro de 2017, naquela manhã n Pra de São Pedro quando o Papa anunciou este Sínodo. Um caminho de sinodalidade que perpassa 4 dimensões: ecológica, cultural, pastoral e sinodal, que nos chama a conversão e nos insere a comprometermos a defesa da vida dos povos e da Amazônia sendo proféticos, samaritanos e missionários, mas que reconhece que esse caminho homens e mulheres caminham juntos e que tanto a voz de um como do outro são importantes no discernimento dos caminhos que efetivam e confirmam uma Igreja com rosto amazônico vivenciando a prática da ecologia integral e comunhão e unidade fraterna dessa Igreja , povo de Deus. Reconhecimento de novos ministérios que valorizem e deem a mulher espaço de atuação, protagonismos e de decisão na governabilidade com alteridade da vida da Igreja e da sociedade.

 

Que destaques você faz da presença das mulheres durante a assembleia sinodal?

Destaco as vozes, a atuação, o posicionamento corajoso, a capacidade de intervenção e a forma de interceder das 40 mulheres participantes deste sínodo dessas mulheres. Não viemos se fazer presentes e pintar o panorama das  salas sinodais. Mas atuamos na base no processo de escuta, nos preparamos  na base como instrumento labore, trazíamos em nossos cestos nossas histórias de vida e fé, nossas angustias, tristezas, alegrias e esperanças de nossos povos e territórios, e nossos conhecimentos da vida, da Palavra de Deus, do magistério da Igreja e das leis eclesiásticas. E também o amor profundo em nosso coração pela amada Igreja e pelo povo de Deu e como mães, filhas, esposas que geram vidas sabíamos de nossa responsabilidade e assumimos caminharmos juntas a sermos fiéis a Deus, à Igreja e aos povos de Deus na Amazônia. Não como sinal de submissão que se cala diante das autoridades de forma estática. Mas com a serenidade e coragem de Maria de tantas outras santas da Igreja e no serviço, diálogo, anúncio e testemunho de nossa fé e vida, ecoamos com coragem o que era necessário ser dito ao Papa, aos padres sinodais e ao mundo para que o projeto de Deus de firme.  E sejamos uma Igreja em saída. Sempre fomos corajosas e firmes em nossos posicionamentos. E sempre o diálogo foi o caminho da sinodalidade.

 

Quais foram as principais intervenções e falas mais marcantes sobre as mulheres na assembleia sinodal? 

As expressadas pelas 40 mulheres auditoras, as dos padres sinodais que defenderam essa temática, as das auditoras indígenas e as falas e comentários do papa sobre a temática. O discurso final do Papa na tarde de sábado, resumia a melhor interversão sobre a temática.

 

Que gritos permanecem e que horizontes podemos vislumbrar acerca do tema das mulheres na Igreja da Amazônia?

É hora, é agora!!! É tempo de novos ministérios às mulheres. E porque não diaconato feminino? E uma formação querigmática, integral , inculturada e com a valorização e atuação da mulher no campo da formação laical, sacerdotal e da vida consagrada. Atuação ativa e efetiva na governabilidade eclesial e da sociedade.

 

Os novos caminhos da Igreja e da ecologia integral passam pelas mulheres?

Sem dúvida, assim com um ser humano precisa do ventre de uma mulher para vim ao mundo. Não há novos caminhos para uma Igreja amazônica e uma ecologia integral sem  que a mulher se faça presente e participativa lado a lado como o home nesse processo. Isso também é sinodalidade, comunhão e unidade. Tudo está interligado.

Deixe um comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios estão marcados *

Postar Comentário