Em meio à pandemia que ceifa milhares de vidas na Amazônia, ecoam gritos de dor, clamores de justiça e vozes de denúncia no Fórum Social Mundial (FSM). Assim é a participação da Amazônia neste evento de magnitude planetária que celebra 20 anos de existência e resistência.

O Fórum Social Mundial é “um encontro anual internacional articulado por movimentos sociais, ONGs e pela comunidade civil para discutir e lutar contra o neoliberalismo, o imperialismo e, sobretudo, contra desigualdades sociais provocadas pela Globalização. É caracterizado por ser não governamental e apartidário, apesar de alguns partidos e correntes partidárias participarem ativamente dos debates e discussões”. Desde sua criação, tem como objetivo “promover debates abertos descentralizados, assim como a formulação de propostas que sirvam de alternativas para o padrão econômico e social mundial, a troca de experiências entre os diversos movimentos sociais e a promoção de uma articulação entre pessoas, movimentos e instituições que se opõem ao neoliberalismo”.

O primeiro encontro do FSM  aconteceu em 2001, na cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Naquela ocasião movimentos sociais do mundo inteiro se reuniu para debater o tema da produção de riquezas e a reprodução social;  o acesso às riquezas e à sustentabilidade; a afirmação da sociedade civil e dos espaços públicos e o poder político e ética na nova sociedade.

Passados 20 anos, novamente em Porto Alegre, a vigésima sessão do FSM se realiza entre os dias 25 a 29 de janeiro, para discutir temas como população idosa, diversidade, pessoas com deficiência, saúde, educação e participação comunitária. Neste ano, a atividade transcorre totalmente on-line devido à pandemia que é tema transversal do FSM que traz como título ‘Um Outro Mundo é Possível Pós-Covid-19!’.

Amazônia se faz representar em diversas formas no FSM por suas organizações e movimentos sociais com participação histórica no evento, das quais destaca-se o espaço garantido pela Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM). Na manhã deste dia 27 de janeiro, a REPAM trouxe para o debate virtual, acompanhado por milhares de pessoas do mundo inteiro, o tema da campanha Amazoniza-te! (https://www.amazonizate.org/)

O debate foi coordenado pela Maria Petronila Neto, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), uma das auditoras do Sínodo para a Amazônia, e pelo jornalista Paulo Martins da REPAM.

Amazoniza-te é uma prolongada e urgente ação que articula as lideranças de povos e comunidades tradicionais, a Igreja na Amazônia, diferentes organismos eclesiais, artistas, cientistas e formadores de opinião nacional e internacionalmente, potencializando denúncias sobre a severidade da situação enfrentada na Amazônia, agravada pela pandemia da COVID-19.

Amazoniza-te nasce da provocação de amazonizar o mundo a partir da perspectiva dos povos da Amazônia. Amazonizar implica denunciar todas as formas de violência que sofrem os defensores da Amazônia. São lideranças socioambientais criminalizadas por causa da sua atuação em defesa da Amazônia e seus territórios. Este foi o primeiro tema do debate apresentado pela advogada Andréia Silvério, da assessoria jurídica da CPT do Pará, que denunciou as diversas formas de criminalização das lideranças socioambientais na Amazônia como forma de enfraquecimento da luta e organização das resistências sociais nesta região marcada pela grilagem de terras, desmatamento, imposição de projetos economicistas que espalham destruição da floresta, contaminação dos rios, poluição e envenenamento do ar, da terra e das águas.

A segunda temática do debate foi a questão das barragens e seus impactos na Amazônia. Jefferson Nascimento, liderança do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), apresentou uma série de violências sofridas por comunidades ribeirinhas, grupos tradicionais e povos indígenas atingidos diretamente pelas barragens das grandes usinas hidroelétricas nos grandes rios da Amazônia. Também as Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), usinas hidrelétricas de tamanho e potência relativamente reduzidos, conforme classificação feita pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), têm sido apropriadas pelo ‘negócio da energia’ no Brasil e passam a representar grandes impactos socioambientais.

O crime socioambiental de Brumadinho que completa um ano nesta semana também veio à tona neste debate. Foi recordado que o crime da Vale, ocorrido em 25 de janeiro de 2019, com o rompimento da barragem Córrego do Feijão, em Brumadinho, Minas Gerais, ainda continua impune. O rompimento da barragem resultou em 13 milhões de metros cúbicos de lama tóxica que soterrou pessoas, animais, florestas, casas, memórias, culturas ancestrais daquela região. Da mesma forma, outras regiões correm o mesmo risco com a flexibilização do licenciamento ambiental em favor das grandes corporações econômicas que não levam em consideração os povos e os territórios impactados com o negócio da mineração.

O terceiro debate foi apresentado pelo assessor da CPT Josep Iborra Plans, conhecido como Zezinho, e girou em torno da questão da violência aos povos indígenas e camponeses na Pan-Amazônia. Situações de despejo de camponeses de territórios de interesse econômico e de especulação imobiliária tem sido recorrentes em toda Amazônia. Territórios historicamente ocupados por camponeses, assentados, seringueiros, caiçaras, comunidades ribeirinhas e quilombolas, tem sido sistematicamente invadidos ilegalmente por grileiros, madeireiros, garimpeiros e  fazendeiros ligados ao agronegócio que contam com o aval de instituições estatais que deveriam defender a regularização agrária e não o avanço do crime organizado e a promoção dos conflitos socioambientais.

A REPAM garantiu outra pauta no FSM em parceria com as instituições que compõem a Agenda Universidades e Amazônia, com  transmissão pelo Facebook da REPAM-Brasil.

#FSM2021 #REPAM #AgendaUniversidadesEAmazonia #WSF2021. Desta forma, a Amazônia vai ganhando espaço importante no debate internacional num momento em que a pandemia tem devastado parte importante da sua população vítima da negligência de governos omissos e da corrupção na esfera pública.

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