Por Roberto Malvezzi (Gogó)

Assessor da Rede Eclesial Pan-Amazônica

Um vírus nem um ser vivo é, ou é apenas a forma mais econômica de vida que existe. Só se multiplica no corpo do hospedeiro. Ele sofre mutação para perpetuar-se. Como diz o personagem do filme Jurassic Park: “a vida sempre encontra um caminho”. É o poder da vida.

Brasil, hoje, tem 2.906 mortos por covid-19 e 45.757 casos confirmados.

No mundo 2,5 milhões de contaminados e cerca de 171 mil óbitos, 42 mil nos Estados Unidos.

Há vozes que pensam que nada mudará depois do coronavírus, diferentes do Papa Francisco. Um cientista francês já disse que não temos nada para aprender com os vírus, a não ser melhorar o cuidado com a saúde.

Entretanto, preferimos ficar com o Papa Francisco, porque a realidade dos fatos nos mostra que ele tem razão. Francisco na Laudato Si’ diz que cada forma de vida é uma mensagem de Deus, toda forma de vida tem sua mensagem. Qual a mensagem que o covid-19 nos envia?

Ela é trágica e ao mesmo tempo pedagógica. Papa Francisco nos disse, de forma um tanto enigmática, que “devemos nos preparar para dias melhores”. Como dias melhores, se o que vemos ao nosso redor são sinais de morte, tantos sofrimentos, luto e tantas mortes?

É que o sofrimento e a morte também fazem parte do processo da vida, mas não são a palavra final sobre a humanidade e a criação. Ninguém escapa deles, mas eles não decidem o nosso destino.

Então, eis alguns sinais de esperança, da esperança real, não de uma fantasia, do que poderá vir depois da pandemia do coronavírus:

  • Uma vida mais simples e menos consumista. A tal mudança no lifestyle como diz a Laudato Si’. Outro estilo de vida, fora da sociedade do descarte.
  • Um cuidado com o planeta e todas as formas de vida, onde tudo e todos estão interligados
  • Um cuidado com as pessoas mais fragilizadas, como idosos e doentes
  • A valorização da convivência, com menos ativismos, revalorização da leitura, da meditação, da contemplação, da conversa em família e com amigos.
  • A valorização da ciência e da tecnologia a serviço da humanidade e da vida, não como uma forma opressiva de dominação. O vírus nos ensinou a fragilidade do mundo baseado exclusivamente na tecnociência, mas também nos ensinou que sem ela a fragilidade humana na face da Terra é exponencialmente mais vulnerável. Portanto, valorizando a técnica e a ciência e rejeitando todo negacionismo.
  • Os Movimentos Sociais falam em reforma agrária, produção de alimentos sadios e mais próximos dos consumidores, da agroecologia, do cuidado com a água, com o saneamento básico, com a captação da água de chuva e tudo que indica uma convivência mais irmã com a criação.
  • Intensificar a crítica às monoculturas animais e vegetais por sua capacidade de produzir doenças e vírus: a gripe aviária, a gripe suína, a doença da vaca louca, todas vieram da monocultura de animais em cativeiro.
  • Intensificar a crítica e o combate ao desmatamento por empurrar os animais selvagens para perto dos seres humanos.
  • O mesmo em relação ao tráfico de animais.
  • Idem ao consumo de animais sem um padrão sanitário.
  • Revalorização da saúde pública, da educação pública, dos investimentos públicos, do emprego com garantias, da renda básica, da necessidade de investimento do Estado em todos os setores, da preservação dos bens comuns como terra, água, florestas e ar….
  • Revalorização da espiritualidade, da religião com valores humanísticos, da democracia, dos valores civilizatórios do respeito aos direitos humanos e aos direitos da natureza…
  • Com menos consumo, menos aviões voando, menos carros nas ruas etc., caiu o valor do petróleo, o ar das grandes cidades está mais limpo, melhorou a qualidade da água dos rios e dos corpos d’água antes tão contaminados, e até os sismógrafos que medem as vibrações da Terra dizem que ela está mais calma. Então, a Terra nos diz que ela pode ser melhor tratada e o caminho das energias limpas pede passagem.

Enfim, podemos ir longe nas novas possibilidades. Entretanto, a disputa pelo que será o futuro já começou e há vozes que insistem em caminhar em linha reta, mesmo depois do Coronavírus, mesmo depois da pandemia. Porém, haverá muito mais vozes para se irmanar ao grito do Papa Francisco pedindo respeito pela Casa Comum e por todas as formas de vida que nela habitam.

Resta saber de qual lado cada um de nós estará e onde estará a maioria da humanidade.

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