A Comissão Pastoral da Terra/CPT divulgou na última sexta-feira, 12 de abril, em Brasília/DF, o relatório Conflitos no campo Brasil 2018. A região amazônica concentra mais de 56% dos conflitos de terra registrados em todo o país. Já o estado do Pará lidera o ranking das unidades da Federação onde mais pessoas morreram em decorrência de conflitos. Foram 16 pessoas que tiveram a vida ceifada.
Os dados de assassinatos no Pará refletem os números elevados de conflitos de terra e pela água registrados no estado. Foram 121 conflitos por terra, somadas as retomadas, com mais de 25 mil famílias atingidas.
Em relação à água, o Pará registrou o maior número entre os estados da Amazônia Legal, com 37 conflitos e 36.692 famílias envolvidas. A maioria dos casos está relacionada à destruição e ou poluição causada por barragens e açudes no município de Barcarena/PA, onde foram feitos 30 registros de conflitos nas comunidades afetadas pela Hydro Alunorte.
Somos terra, somos água, somos vida
O senhor Antônio de Paula da Silva é da comunidade São Mateus, no município de Trairão/PA. Ele partilhou as ameaças que as comunidades dos assentamentos sofrem ao defenderem sua forma de se relacionarem com a terra, na luta pela floresta em pé.
“A gente fica muito preocupado com as matanças que se vê falar, e não só se ver falar, como a gente reconhece”, denuncia. Antônio indica como autores das tensões os fazendeiros e madeireiros. “Só da terra que a gente vive, de plantar arroz, mandioca, milho, feijão, fruta… a gente tem a floresta em pé, não derrubada, por isso a ameaça é grande”, reforça, que ainda lembra o esforço para proteger com o plantio de árvores as nascentes que existem nas proximidades do assentamento.
“Somos ameaçados por conta desse trabalho que a gente faz. Nós somos da natureza-povo, vive da natureza”, afirma o trabalhador que vive o temor da perseguição e a privação da liberdade dentro de seu território.
Preocupação da Igreja
O bispo da prelazia de Itacoatiara/AM, dom José Ionilton, esteve presente no lançamento do caderno de conflitos no campo e avaliou os dados como “preocupantes”. Analisando o maior número de casos na região amazônica, o bispo relacionou o contexto com o sínodo convocado pelo papa Francisco para outubro deste ano:
“Para nós que estamos vivendo a preocupação para o Sínodo para a Amazônia, isso significa que a preocupação do papa Francisco tem toda a razão de ser. Ele que disse na convocação do Sínodo que tinha uma preocupação com a Amazônia porque os povos originários da Amazônia estavam extremamente ameaçados. E esses dados no caderno da CPT trazem para nós que a preocupação da Igreja e do papa Francisco tem fundamento, tem sentido. Nós temos muito que refletir e trabalhar”, afirmou.
Dom Ionilton deseja que o caderno divulgado pela CPT “nos traga esta luz que às vezes fica tão escondida, desses dados desses conflitos e a gente possa dar as mãos e não largarmos na defesa dos povos, da terra, da água e da vida acima de tudo”.
Em todo o Brasil, foram 1489 conflitos, com 28 pessoas assassinadas e 960.342 envolvidos. Neste ano, o relatório homenageou a irmã Alberta Girardi, falecida em dezembro de 2018, e a vereadora carioca, Marielle Franco, assassinada em abril de 2018, e apresentou um recorte relacionada à questão da violência contra a mulher. De acordo com a CPT, foram 482 mulheres que sofreram violência nos conflitos no campo: 36 ameaçadas de morte, 6 sofreram tentativas de assassinato, 15 foram presas, 2 torturadas, 6 sofreram ferimentos, 2 morreram em consequência dos conflitos, uma sofreu aborto e 400 foram detidas.