Márcia Oliveira | Foto: reprodução/REPAM-Brasil

Por Márcia Maria de Oliveira (UFRR/REPAM)

Na manhã de hoje, circulou pelas redes sociais uma postagem do primeiro vídeo da ‘Campanha Amazoniza-te’ com uma fala impactante do ator Wagner Moura que firmava: “defender a floresta amazônica, os ecossistemas em geral, lutar contra o aquecimento global, proteger a fauna e a flora, proteger os guardiões das florestas, proteger os direitos dos povos indígenas e das comunidades tradicionais é hoje uma questão fundamental, uma questão de sobrevivência para todos nós, povos da floresta e povos da cidade. Amazoniza-te!”.

O vídeo começa com um alerta do líder indígena Anacleto Tapirapé: “a queimada acaba com tudo. Acaba com os animais, acaba com a terra, com a natureza, com as ervas medicinais, com os insetos, acaba com tudo o que vive na terra. A queimada acaba com tudo”, afirma o jovem do Povo Tapirapé.

Na mesma linha de pensamento de Wagner Moura, a fala do Papa Francisco é contumaz: “estamos todos preocupados com os grandes incêndios que ocorrem na Amazônia. Rezemos, para que com o empenho de todos, sejam controlados o quanto antes. Porque aquele pulmão da floresta é vital para o nosso planeta”. Afirma o Papa em mensagem recente enviada para somar com a campanha.

As lideranças do Povo Apurinã, do sul do Amazonas, e do Povo Guajajara, no norte do Pará, também alertam para a urgência da demarcação das terras indígenas, e a proteção contra as invasões, antes que tudo seja desmatado. Desta forma, a campanha lançada em Brasília no último dia 27 de julho, insere-se de forma ativa e efetiva no conjunto de atividades do Processo Pós-Sinodal, dando continuidade aos compromisso assumidos pela Igreja da Pan-Amazônia no Sínodo Especial para a Amazônia realizado em outubro passado. No pronunciamento de encerramento do Sínodo, o Papa Francisco afirmou que “na Amazônia aparece todo tipo de injustiça, destruição de pessoas, exploração de pessoas em todos os níveis. E destruição da identidade cultural”. Este alerta motiva a inserção internacional de instituições internacionais na campanha em questão.

Organizada pela Comissão Episcopal para a Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em parceria com outras organizações eclesiais e da sociedade civil, a Campanha Amazoniza-te surge a partir das demandas urgentes da Amazônia e de seus povos, com o objetivo de alcançar povos e instituições locais, nacionais e internacionais no engajamento em defesa da Amazônia e de seus povos.

O eixo motivador da campanha é o enfrentamento às diversas formas de violência contra os povos tradicionais agravadas pela pandemia da Covid-19, em “uma conjuntura onde o desmatamento e a grilagem, as queimadas, a mineração e garimpo se intensificam, tornando-se agentes de proliferação do coronavírus nas comunidades da região amazônica” afirma a descrição da campanha.

 “Amazoniza-te”, foi a declaração final da Assembleia Mundial pela Amazônia realizada nos dias 17 e 18 de julho. Sem dúvida, foi uma das inspirações para a ‘Campanha Amazoniza-te’ que é um conjunto de ações que articulam “as lideranças dos povos e comunidades tradicionais, a Igreja na Amazônia, os diferentes organismos eclesiais, artistas e formadores de opinião, pesquisadores e cientistas”.

A convocatória “Amazonizar” propõe a participação ativa de todo o povo em defesa da Amazônia, seu bioma e seus povos ameaçados em seus territórios. São vozes que se somam diante uma realidade de muitas vidas injustiçadas, expulsas de suas terras, torturadas e assassinadas nos conflitos agrários e socioambientais, vítimas de uma política orientada pelo agronegócio e por grandes projetos econômicos desenvolvimentistas que não respeitam os limites da natureza nem a sua preservação.

A campanha pretende “sensibilizar a opinião pública brasileira e internacional sobre o perigo ao qual está sendo exposta a vida na Amazônia, com os territórios e as populações. O desmonte dos órgãos públicos de proteção ambiental, o desrespeito contínuo da legislação, bem como ausência da participação da sociedade civil nos espaços de regulação e controle das políticas públicas”. Para atingir estes objetivos a campanha está estruturada em três eixos:

  1. Vulnerabilidade dos Povos Indígenas e comunidades tradicionais à contaminação pelo novo coronavírus (convid-19), com destaque para a debilidade no atendimento e estrutura dos equipamentos públicos de saúde nos estados e municípios da região, aquém das condições de outras regiões do país;
  2. Aceleração da destruição do Bioma pelo aumento descontrolado do desmatamento, das queimadas, a invasão de territórios indígenas e das Comunidades Tradicionais pela grilagem, mineração, garimpo, pecuária e plantio de monoculturas, e pelos efeitos das hidrelétricas sobre as populações ribeirinhas;
  3. Violação sistemática da legislação de proteção ambiental e desmonte dos órgãos públicos, com atuação intencional do governo para desregulamentar e ampliar – de forma ilegal – a atuação das mineradoras, agronegócio, madeireiras e pecuaristas na região.

Embalada pelo neologismo do verbo ‘amazonizar’ a campanha dirige-se primeiramente para dentro. Ou seja, para amazonizar quem está fora da Amazônia, primeiramente é preciso se deixar amazonizar, como afirma a letra da canção amazônica ‘futuro do presente’ dos artistas paraenses Nilson Chaves e Joãozinho gomes, apresentada no Festcineamazonia em 2010: “Eu amazonizarei, tu amazonizarás, ele amazonizará, nós amazonizaremos, vós amazonizareis, eles amazonizarão”.

E, na segunda estrofe da canção, os poetas apresentam uma convocatória, muito própria do verbo amazonizar: “Amazonizai o mundo com o fio das “b’jarronas”  (Bicharronas), com floresta reerguida, e a arte da Amazônia. Não larguemos mão da lida, marcação feita por zona, com o avanço da ferida nas entranhas da Amazônia (…) que, por Deus! Está em risco”.

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