Assessores que contribuíram na elaboração do Documento Preparatório do Sínodo para a Amazônia

“O Sínodo é um ponto de partida e não um ponto de chegada”, afirmou a professora Márcia Oliveira, uma das assessoras da elaboração do Documento Preparatório do Sínodo para a Amazônia, na apresentação do material aos bispos participantes do III Encontro da Igreja Católica na Amazônia Legal, na tarde dessa terça-feira (21). O evento, que reúne os responsáveis pelas Igrejas locais de toda a Amazônia Brasileira, organizado pela Comissão Especial para a Amazônia e Rede Eclesial Pan-Amazônica, contou ainda na mesa de debate com a presença de Padre Justino Rezende, indígena da etinia Tuyuka, Padre Paulo Suess, assessor do CIMI e  o padre e missionário Peter Hughes, do Peru, todos assessores que contribuíram com a elaboração do Documento.

De acordo com Márcia, é preciso estar atento ao processo desencadeado pelo Sínodo e não focar apenas na assembleia sinodal. Segundo a professora, o Documento Preparatório “é uma espécie de rascunho que vamos imprimindo nele tudo aquilo que nos parece importante e tudo o que sonhamos para essa região. E a igreja universal, com o Sínodo, se coloca num processo de abertura para conhecer e dar a conhecer essa região para toda a Igreja”. Por isso, afirmou ela, ser importante os processos anteriores ao Sínodo, que vão possibilitar subsídios para a caminhada da Igreja, pós-Sínodo, que estiver atenta a escutar os seus povos.

O Padre Justino Sarmento Rezende, indígena tuyuka, destacou as questões indígenas presentes no Documento. Justino ressaltou a fragilidade da defesa dos indígenas na história da Igreja e a demonização e inferiorização das culturas indígenas, um perigo que se faz presente nos novos colonialismos que destroem as identidades culturais. Nesse contexto, a Igreja é desafiada na proteção e defesa das características próprias de povos que sonham. Justino Rezende insiste que a Igreja da Amazônia não pode ser separada do cuidado de seus territórios e povos, que deve pegar o jeito amazônico de ser, uma Igreja que escuta o que o povo tem a dizer, pois Deus já estava lá antes de a Igreja chegar. “Os indígenas amam a Igreja e a querem mais próxima”, insistiu o padre.

De acordo com Peter Hughes, a novidade do Sínodo está no impacto político e cosmológico, num momento em que a Amazônia e seus povos se encontram em perigo, alguns de morte. Nesse sentido, Hughes afirmava que “se a situação atual não é revertida vamos chegar num ponto insustentável”. No processo sinodal, “o povo da Amazônia quer ser escutado, ter o direito de expressar sua palavra”, afirmou Peter. Por isso, a Igreja precisa ser samaritana, “abrir os olhos e ouvidos para entender que há outra maneira de viver, pensar e atuar”, declarou Peter Hughes. “Os amazônicos são os pobres, por excelência, do século XXI, sobretudo na América Latina”, completou.

De acordo com Paulo Suess, alguns elementos devem estar presentes na Igreja da Amazônia e não podem ser ignorados pelo Sínodo: coragem para caminhar por novos caminhos, participação do Povo de Deus, saber “perder” o tempo desde a proximidade, encarnação como inculturação, um rosto amazônico de uma Igreja pós-colonial, instinto de fé do Povo de Deus, com ministérios da Igreja local que surgem de um processo de escuta.  Para Suess, tudo isso deve provocar o protagonismo dos povos indígenas, ainda mais desde a constatação que não são formalmente escutados, um rosto amazônico da Igreja e um novo estilo de vida. ”Os novos caminhos devem encurtar as distâncias geográficas e humanas entre a Igreja institucional e a vida cotidiana do povo de Deus, entre as culturas amazônicas e a cultura dominante, entre os batizados e a possibilidade de sua participação na Palavra e nos Sacramentos”, afirmou Pe. Paulo Suess.

Texto adaptado do original de Luis Miguel Modino.

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