Especialistas contribuem na análise da realidade amazônica

Olhar para a realidade da Amazônia, essa foi a pauta da manhã do segundo dia do III Encontro da Igreja Católica na Amazônia Legal, realizado no Centro de Treinamento da Maromba, em Manaus. Com a assessoria de Felício Pontes, Procurador Regional da República, de Ivânia Maria Carneiro Vieira,  professora e jornalista, e do antropólogo Rodrigo Fadul, o objetivo da mesa de debate do encontro foi proporcionar, aos participantes da atividade, por meio da análise de especialistas, uma visão mais aprofundada da Amazônia com seus desafios e potencialidades.

Na história da Amazônia tem se dado, segundo Felício Pontes, dois modelos de desenvolvimento, o modelo predatório e o modelo socioambiental. O primeiro se traduz na exploração de madeira, pecuária, mineração, monoculturas e energia, enquanto o segundo se fundamenta na agroecologia e é direcionado aos povos da floresta. De acordo com o procurador há legislação no Brasil que possibilita, hoje, lutar pelos direitos dos povos indígenas, um dos mais ameaçados na sociedade brasileira, e a conquista desse artigo constitucional se deu com articulação e apoio da Igreja. “Esse dispositivo constitucional faz com que o Brasil seja pluralista e multicultural. Ele nos ajuda no combate a invasão das terras indígenas e na defesa dos povos originários”, afirmou Felício Pontes, Procurador Regional da República, citando o artigo 231 da Constituição Federal.

A voz dos povos da Amazônia não quer ser escutada por uma comunicação que ignora o que acontece na região, afirmou a jornalista e professora Ivânia Vieira, quem ressaltava que “vivemos numa sociedade onde os números não nos atingem mais”, onde não aparece, ou aparece de modo deformado, o rosto dos mais fragilizados: mulheres, crianças, negros, indígenas e juventudes. “Há uma Amazônia Criança que clama pela garantia de direitos. (…) Há uma Amazônia indígena cuja história de resistência se faz a todo momento, sem trégua, pelo direito de viver.(…) Há uma Amazônia indígena que continua sendo rejeitada como parte natural da sociedade nacional. (…) Há uma Amazônia Mulher, plural em essência que traduz as lutas, as resistência, os tecimentos das batalhas visíveis e invisíveis na Amazônia”, pontuou a jornalista.

Ivânia Vieira ainda destacou o papel da mulher na vida das comunidades da Igreja. Segundo ela é preciso que as mulheres tenham um espaço diferenciado e não estejam apenas em segundo plano, já que elas são a maioria e as dinamizadoras dos espaços eclesiais na Amazônia. “Que as mulheres não sejam utilizadas como mão de obra barata, que não sejam aquelas que apenas secretariam ou  servem água, mas que estejam ao lado, que sejam participantes, que possamos trabalhar nas diversas tarefas nessa Igreja o que os Espirito Santo, Jesus e Nossa Senhora pedem de nós”, disse a jornalista.

A Amazônia sempre foi uma região complexa e desconhecida, destacou antropólogo Rodrigo Fadul. Um território pouco homogêneo, com muitos povos que carregam grande conhecimento na organização social, política, econômica e religiosa, cujo modo de pensar sempre foi negado. De acordo com Fadul, é preciso reconhecer a lógica dos povos da Amazônia, marcada pelo trabalho coletivo, a relação com a terra, a territorialidade e a identidade, a partir de sua dimensão pessoal e coletiva. “A lógica capitalista não se aplica em muitos lugares na Amazônia. Muitos trabalhos são feitos coletivamente. Tempo de lazer e tempo de trabalho não são fortemente demarcados”, completou o antropólogo.

O III Encontro da Igreja Católica na Amazônia Legal segue até quinta-feira. Organizado pela Comissão Especial para a Amazônia e Rede Eclesial Pan-Amazônica/REPAM, a proposta da atividade é aprofundar em temáticas que contribuiam na preparação do Sínodo para a Amazônia.

 

Texto com contribuições de Luis Miguel Modino.

 

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