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Convocado pela Rede Eclesial Panamazônica (REPAM) e pela Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), o seminário virtual foi realizado nesta segunda-feira, 28 de junho, no qual, no processo de escuta da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, eles quiseram dar passos neste caminho continental a partir de uma perspectiva amazônica.

Ouvir nos ajuda a encontrar o gesto e a palavra certos

Liderado pelo secretário geral da Confederação Latino-americana de Religiosos (CLAR), Sr. Daniela Cannavina, contou com a presença de Patricia Gualinga, Cardeal Pedro Barreto, Francisco Lima, Mauricio López e Francisco Campos. Queria ser um momento para “nos exercitarmos na arte de ouvir, que é muito mais do que ouvir”, segundo a secretária da CLAR. Segundo a religiosa, “a escuta ajuda-nos a encontrar o gesto e a palavra adequados, que nos afasta da condição de espectadores, ajudando-nos a desenvolver o que de melhor Deus desenvolveu na nossa vida”.

O cardeal Pedro Barreto partiu da ideia de que “quando falamos de uma Igreja com rosto amazônico, falamos de elementos fundamentais da Igreja, pois falamos do cuidado da vida, das culturas e da casa comum”. O cardeal peruano referiu-se aos sonhos do Papa Francisco na Querida Amazônia e à sinodalidade, que “não é uma invenção do Papa Francisco, mas um retorno às origens”. O presidente da REPAM recordou as palavras do Papa Francisco nas quais afirmou que “a sinodalidade é o caminho que Deus espera da Igreja para o terceiro milênio”, algo que se desenvolve na Episcopalis Communio.

A sinodalidade faz parte da experiência de um Povo de Deus que caminha na história

O arcebispo de Huancayo insistiu na necessidade de difundir a ideia da sinodalidade, para descobrir a importância do “sensus fidei ”. Segundo o purpurado, “a sinodalidade faz parte da experiência de um Povo de Deus que caminha na história”, que definiu como um “ processo de escuta de Deus, de discernimento e de atuação como Povo de Deus em caminho”. Com suas palavras, mostrou sua alegria por ser a Amazônia e seus povos que ajudam a Igreja a caminhar.

Depois de mostrar a importância de estarmos conscientes de que estamos em processo de escuta, sublinhou que – com a Assembleia Eclesial estamos perante um elemento fundamental para o processo de reforma da Igreja Católica -, uma Igreja que escuta e que é um passo preliminar para o momento mais importante, que será o Sínodo sobre a Sinodalidade. Finalmente, ele insistiu que “todos nós temos que ser atores na Igreja, não há espectadores”.

Ouça os sentimentos das comunidades

“Com o Sínodo, a Igreja deixou claro de que lado está, dos mais fracos, dos mais distantes, dos que estão no território”, afirmou Patricia Gualinga, que insistiu que “este foi o resultado da escuta os sentimentos das comunidades”. O líder indígena insistiu na necessidade de advogar em outros espaços eclesiais, de nos ouvir, também fora da Amazônia. Para Patrícia, “tudo tem que ser intercultural, levando a uma compreensão das expressões positivas, que podem ser uma contribuição em um mundo caótico”, algo que tem que ser uma realidade na unidade.

O representante dos povos indígenas na Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama), destacou que este espaço de escuta nos dá muita esperança, “é uma relação de aliados, deixando para trás as imposições do passado, para construir um presente que possa contribuir dentro do mundo espiritual”. Para os indígenas Kichwa de Sarayaku, “Deus sempre esteve presente no pensamento espiritual dos povos indígenas, que deve ser acoplado pela Igreja a partir de chaves interculturais”. Ela mostrou sua confiança no Espírito para que outros espaços se maravilhem, onde caminhar como irmãos seja algo presente na vida da Igreja.

A vida na região amazônica é constantemente ameaçada

Ao falar do contexto da Amazônia no Brasil, Francisco Lima insistiu que “a vida da Amazônia está constantemente ameaçada”, realidade que se intensificou com o atual governo, que atua “sem nenhum respeito pelos povos amazônicos, que veem reduzidos ou retirados os direitos que tanto lhes custou obter”.

Na Amazônia, “a Igreja Católica sempre procurou estar atenta a essa realidade” , segundo o secretário executivo da CNBB Norte 1. Ele ressaltou que “a Igreja na Amazônia tem buscado a sua própria face, enfatizando a formação do clero local , mas também tem procurado trabalhar na formação de milhares de líderes leigos espalhados em tantas comunidades desta imensa Amazônia”, relatando o trabalho realizado.

Processo que fortaleceu as comunidades

Francisco Lima destacou o incentivo dado pelo Papa Francisco neste caminho desde a Conferência de Aparecida, insistindo na necessidade da presença da Igreja na região. Recordou os caminhos indicados por Laudato Sí, e qualificou o Sínodo para a Amazônia como um apelo a buscar “novos caminhos para a Igreja e para uma Ecologia Integral”, que “nos abriu a novas possibilidades, reafirmou alguns caminhos já percorridos, mas que eles precisam ser reforçados, e ele exigiu muito mais audácia de nós”.

“Estamos diante de um processo que fortalece as comunidades, que tem dado espaço para que as comunidades sejam ouvidas”, afirmou Francisco Lima, que também destacou que isso permite que a voz dos povos amazônicos tenha eco. Por isso, chamou a aproveitar este momento para afirmar que “todos somos Povo de Deus e devemos estar em comunhão”.

Ouvir produz mudanças irreversíveis

“A escuta deve ser mútua, recíproca e transformadora”, insistiu Mauricio López, uma escuta que “está se transformando em reformas e mudanças, como aconteceu na Amazônia desde o Sínodo”. A diretora do Centro Pastoral de Ação Social e Redes do Celam, “a escuta, no sentido de discernimento da vontade de Deus, produz mudanças, que esperamos sejam irreversíveis na lógica do Povo de Deus”. Mauricio vê a escuta como uma forma de chegar às periferias geográficas e existenciais, ao maior número de pessoas possível. A partir daí, pediu à REPAM que continue sendo aquela ponte com a qual nunca foi ouvido, ainda mais diante de uma situação que mudou com a pandemia de Covid-19.

Segundo Mauricio López, que conhece a realidade amazônica a partir do trabalho realizado como secretário executivo da REPAM, “os povos indígenas sempre pediram coerência e mudanças fundamentais , para poder agir, algo que é a Assembleia Eclesial, que quer se tornar uma porta aberta para aspirar a uma Igreja mais sinodal, algo que nasceu no Concílio Vaticano II, onde somos chamados a ser Igreja Povo de Deus”. Mauricio relembrou as ideias presentes no Sínodo para a Amazônia, que mostraram a importância da periferia iluminar o centro, para ajudar a abrir novos caminhos a partir de seu ser periferia.

É importante que a REPAM faça um convite a “abraçar a Assembleia eclesial como algo próprio, como um lugar para gerar espaços de escuta genuína que se transformam”, segundo Mauricio López. Ele também destacou a conexão com o Sínodo sobre a Sinodalidade, “que pediu que a periferia ilumine o centro, em uma chave transbordante, que é a forma como Deus resolve o conflito”. Por isso, é necessário “ter consciência de que lutamos pelo mesmo”, recordando as palavras de Santiago Yahuarcani, que nos chama a compreender a necessária colaboração.

Plataforma de escuta como um lugar para compartilhar

Não podemos esquecer que vivemos um momento desafiador como Igreja, devido a uma pandemia que modificou a nossa forma de nos relacionarmos, como recordou Francisco Campos. O responsável pela plataforma de escuta da Assembleia Eclesiástica a define como uma experiência profética, uma novidade. Explicou como funciona a plataforma de escuta, que dá a possibilidade de participar de três formas: comunitária, fóruns temáticos e pessoal, no caso de escuta sem filtros.

Campos nos convidou a sermos solidários, a convidar outros a participarem e a ajudá-los, lembrando que se trata de promover formas de participação para que a Igreja esteja presente, sendo portadora da Boa Nova, colocando os meios tecnológicos ao serviço dos outros. Na sua intervenção, explicou os diversos elementos presentes na plataforma, destacando que esta plataforma de escuta continuará a ser um lugar de partilha, a partir do dia 30 de agosto, para construir novos caminhos para a Igreja no continente.

Fonte: Luis Miguel Modino e Comunicação CELAM

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