O bispo da prelazia de Marajó/PA, dom Evaristo Spengler, fez uma exposição durante o Seminário de Estudos sobre o Sínodo para Amazônia, que acontece em Roma até amanhã, dia 27. “Ecologia, economia e política” foi tema aprofundado pelo bispo.
“A compreensão da Terra como Casa Comum deveria oferecer a base para políticas globais de controle do aquecimento global, das mudanças climáticas, da preservação das florestas, do cuidado da casa comum e o limite para a economia de mercado”, apontou dom Evaristo, indicando que os povos da floresta e os povos originários, “com a proposta do ‘bem-viver’ e as comunidades dos discípulos de Jesus, com a proposta do Reino de Deus, junto com outros aliados que sabem que a Amazônia é criação de Deus, serão capazes” de realizar este desejo aparentemente utópico.
Dom Evaristo falou em sua exposição do drama da economia atual, que transformou a economia de mercado em sociedade de mercado, recordando a frase do papa Francisco na exortação apostólica Evangelli Gaudium: “Essa economia mata”. Para dom Evaristo, a política está enredada nas malhas desta economia, na qual o planeta Terra é transformado num grande mercado.
“A Terra vem sendo submetida a uma exploração de todos os seus ecossistemas em função do enriquecimento de alguns e do empobrecimento de bilhões de pessoas. Segundo relato da ONG Oxfan 2019, 26 indivíduos possuem riqueza igual a 3,4 bilhões de pessoas”, contextualizou dom Evaristo.
A realidade econômica atual produz “duas funestas injustiças”, pontuou: “Uma social, produzindo incomensurável pobreza e miséria; e outra, uma injustiça ecológica, dizimando os bens e serviços naturais, muitos deles não renováveis”.
A Igreja neste sentido é desafiada a “buscar uma política de participação de todos e para todos, e também para com a natureza”. O bispo propôs um termo: “ecopolítica”, o qual seu significado tem por tem por escopo “organizar a sociedade e a distribuição do poder de forma a implementar estratégias de sustentabilidade para garantir a todos o suficiente e o decente para viver”.
Dom Evaristo recorda, como em toda a sua fala, a encíclica “Laudato Si’ – sobre o cuidado da casa comum” para salientar a necessidade de conversão do atual modelo de desenvolvimento. Um modelo alternativo ao predatório em voga na economia atual, “deverá considerar o meio ambiente como um bem coletivo, a defesa do trabalho e dos povos originários, entre eles os indígenas da Amazônia, o papel dos movimentos sociais e das organizações da sociedade civil”.
Floresta Amazônica
A floresta Amazônica “é um grande equilíbrio dinâmico, no qual tudo é aproveitado e continuamente reciclado. O oxigênio que ela produz, ela mesmo consome. Mas ela funciona como um grande filtro que absorve dióxido de carbono, o principal gás do efeito estufa, um dos fatores responsáveis pelo aquecimento global e das mudanças climáticas”, destacou dom Evaristo ao situar a região para a qual o sínodo dos bispos se dirige neste ano para pensar em “Novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”.
O bispo de Marajó resgatou o histórico secular de exploração e de práticas colonialistas na região, além das tentativas de implementar grandes projetos por parte de empresas multinacionais ao longo dos últimos cem anos. “São megaprojetos de mineração, energia, petróleo, agricultura, pecuária, madeireiras, infraestrutura, como hidrovias, rodovias, ferrovias e portos. São projetos de governos e de grandes conglomerados econômicos e de diversos países”, sublinhou.
Mais à frente, dom Evaristo ressaltou o modo de vida dos povos amazônicos, os quais respeitam, convivem com aquela biodiversidade há pelo menos 12 mil anos.
“Os povos da floresta […] têm uma sabedoria, uma cultura, convivem com a floresta, interferem na floresta, vivem da floresta e das águas. Povos tradicionais e floresta se condicionam mutuamente, criaram relações e desenvolveram uma ‘florestania’, numa teia intrincada de reciprocidade, intercâmbio e cumplicidade”
Um apelo
Dirigindo-se ao secretário do Sínodo, cardeal Lorenzo Baldisseri, dom Evaristo Spengler externou a solicitação de um “olhar especial e misericordioso para a problemática da violência sexual contra crianças e adolescentes, sobretudo nas áreas dos grandes projetos econômicos presentes na região”. O pedido é de parte da Igreja da Amazônia que atua com diversas organizações da sociedade civil organizada na promoção e defesa dos direitos de crianças e adolescentes.