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Mais de vinte organizações católicas e da sociedade civil entregaram na tarde desta quarta-feira, 24 de maio, uma carta ao presidente da Comissão de Legislação Participativa (CLP), deputado Zé Silva (Solidariedade-MG), e ao presidente da Frente Parlamentar Ambientalista, o deputado Nilto Tatto (PT-SP), onde pedem compromisso urgente com agendas de promoção da justiça climática e socioambiental. A entrega do documento ocorreu durante a audiência pública “Laudato Si’: compromisso cristão com a justiça socioambiental”, na Câmara dos Deputados, em Brasília.  

Na carta, as organizações afirmam que “não podemos mais continuar tratando as questões climáticas e socioambientais com superficialidade, sem avançar para soluções que transformem as verdadeiras causas da grave crise que vivemos. O tempo está se esgotando, como mostram todos os anos os relatórios e outros estudos sobre mudanças climáticas”.  

“É preciso mudar essa atitude perversa de continuidade de uma economia baseada no uso intensivo de carbono e negar os efeitos das mudanças climáticas na vida do planeta. Se essa lógica perversa não for radicalmente transformada, as presentes e futuras gerações do Brasil serão impactadas com experiências sem precedentes, que colocam em risco a própria continuidade da vida”, diz outro trecho da carta.  

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A audiência, convocada pelo deputado federal João Daniel (PT-SE), teve como objetivo debater alternativas para a proteção do meio ambiente, especialmente da Amazônia e dos povos e comunidades tradicionais.  

Sônia Gomes de Oliveira, presidente do Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB), chamou atenção a experiência das mulheres na luta pela defesa e proteção dos territórios. “Essas mulheres que quero relatar e lembrar aqui, hoje, são as que estão chegando de forma invisibilizada, que buscam alternativas para salvar o chão ou o ambiente onde estão, são verdadeiras protagonistas, que tiram da pobreza ações que têm a força da ancestralidade e dos antepassados, mulheres que sentem o drama da seca e da falta d’água ou a concorrência da água, em ter que dividir a água com o gado ou com a monocultura, sentem a fome como companheira do seu dia a dia”, afirmou.  

A presidente do CNLB finalizou saudando as mulheres de todos os cantos do país. “Que todas as mulheres, desde a sua ancestralidade, nos inspirem! Essas mulheres são verdadeiras protetoras e e profetizas”.  

Ceres Luísa Antunes, assentada do norte do Paraná e dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Teto (MST), defendeu a reforma agraria como um projeto para toda a sociedade brasileira. “A luta pela terra no Brasil é uma luta histórica e é uma luta que está diretamente ligada a uma luta por identidade e nossa existência. Também afirmamos o nosso compromisso histórico com a luta pela terra, que apesar das tentativas de criminalização, é uma luta legítima e legal, garantida pela Constituição Federal”.  

Ela também chamou atenção para a encíclica Laudato Si’, que completou 8 anos da sua publicação nesta quarta-feira (24), afirmando que a “Laudato Si’ foi um chamado de atenção, não só para a comunidade católica, mas a todos os povos do mundo”.   

Representando as comunidades tradicionais pesqueiras, Andréa Gaivotas, do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), defendeu a aprovação do PL 131/2020, que assegura a comunidades pesqueiras tradicionais – que têm a pesca artesanal como modo de vida – preferência para acessar e utilizar os recursos naturais presentes no território onde vivem.  

“Em nome das comunidades tracionais pesqueiras, peço aqui que avance o PL 131/20, que trata do reconhecimento e proteção do território das comunidades pesqueiras. Ele é importante para o cuidado da nossa Casa Comum”, garantiu.  

Um dos protagonistas do filme “A Carta”, inspirado na encíclica Laudato Si’, o cacique Dadá Borari, do povo indígena Maró, no Estado do Pará, afirmou que as comunidades esperam que a sociedade possam ouvi-los. “A nossa casa é a floresta! Estamos pedindo, encarecidamente, com muito respeito, que passem a olhar com carinho para um direito que está na Constituição Federal. Está na hora de pensarmos com carinho”, pediu.  

“Espero que, a partir de agora, tenhamos um sentimento de coletividade, pois a responsabilidade de preservação ambiental, cultural e espiritual é de todos. Todos nós somos vitoriosos, mesmo sendo ameaçados e perseguidos, mas ainda estamos aqui falando, muitas vezes, para uma minoria ouvir, mas que essa minoria, eu acredito, que futuramente possa ser a maioria”, declarou o cacique.  

Dom José Ionilton de Oliveira, bispo da Prelazia de Itacoatiara (AM) e secretário da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil), destacou que há décadas a Amazônia é palco de conflitos agrários e que os grandes empreendimentos, o agronegócio, a grilagem e o garimpo são responsáveis por diversos impactos ambientais na Amazônia. 

“O processo de ocupação da Amazônia causou impactos terríveis. Um dos problemas fundamentais da Amazônia é o modelo de desenvolvimento adotado. O avanço desse modelo tem sido um desastre denunciado no mundo inteiro por instituições comprometidas com o meio ambiente e com a vida na Terra, como foi a Encíclica Laudato Si’, portanto esse “progresso” trazido para Amazônia tem transformado drasticamente a região, em uma processo tremendo de destruição e reconfigurações territoriais nem sempre condizente com o papel que a região ocupa no planeta”, garante o secretário da REPAM-Brasil.  

O bispo de Itacoatiara também comentou sobre a tese do marco temporal e o PL 490/07, que transforma o marco temporal em lei, e pediu que o projeto seja derrubado.  

Dom Vicente Ferreira, bispo da Diocese de Livramento de Nossa Senhora (BA) e secretário da Comissão Especial de Ecologia Integral e Mineração da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), comentou sobre a distorção atual da sociedade, afirmando que “tiramos Deus da posição de criador e no lugar colocamos um ídolo, chamado dinheiro e ganância, no lugar”.  

Ao falar sobre os impactos da mineração, o bispo falou sobre os dois maiores crimes socioambientais do país, que ocorreram em Mariana e Brumadinho. “É um absurdo! Quem está matando o nosso Brasil, não são os indígenas e os movimentos sociais, que inclusive o Papa Francisco chama de poesia social, mas tem nome e precisa ser nomeado, inclusive nesta casa, tem nome e CNPJ”, ressaltou.  

Dom Vicente encerrou deixando uma mensagem de esperança e de um novo tempo. “Ninguém pode roubar de nós o desejo de ser semente. Queremos semear o amanhã!”. Em seguida, entregou a carta das organizações ao deputado Zé Silva.  

Ao encerrar a audiência, o presidente da Comissão, o deputado Zé Silva, pediu um minuto de silêncio pela vida de das vítimas do Massacre de Pau d’Arco, que hoje (24) completou seis anos, e a todas e todos os mártires da caminhada.  

Semana Laudato Si’ 

A audiência integra a programação das atividades promovidas durante a Semana Laudato Si, que acontece até 28 de maio. Com o tema “Esperança para a Terra”. “Esperança para a humanidade”, o evento marca o oitavo aniversário da encíclica do Papa Francisco sobre o cuidado da criação.  

Confira a programação da Semana Laudato Si’ no link https://laudatosi.my.canva.site/   

A iniciativa faz parte da Campanha Laudato Si’, lançada em março, para difundir o documentário “A Carta” como uma estratégia para a sensibilização e a mobilização do universo religioso para as questões intrínsecas à Encíclica Laudato Si’, que chama atenção para o cuidado da Casa Comum.  A campanha é uma realização da CNBB, do Movimento Laudato Si’ e da REPAM-Brasil, em parceria com diversas organizações.    

 

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