As ameaças e violações aos direitos dos povos indígenas do Sul do Pará mais uma vez tiveram destaque no clamor de seus representantes. Durante o Encontro dos Povos do Xingu, realizado em Altamira/PA, entre os dias 15 e 17 de novembro, foi feita a reflexão para contribuir no processo do Sínodo para a Amazônia, convocado pelo papa Francisco para outubro de 2019, e aprovada uma Moção de denúncia e solidariedade aos povos indígenas “impactados pelos grandes projetos como hidrelétricas e mineradoras”.

Participaram do encontro o bispo da prelazia do Xingu, dom João Muniz Alves, o bispo emérito, dom Erwin Kräutler, padres, religiosas e religiosos, cristãos leigos e leigas, representantes dos Povos Indígenas, ribeirinhos, extrativistas, quilombolas, agricultores familiares e movimentos sociais.

“Vimos denunciar as invasões nas terras indígenas, a retirada ilegal de madeira por madeireiros e fazendeiros, as queimadas, a poluição das águas, a morte de peixes e animais silvestres promovida pelas empresas mineradoras, hidrelétricas e garimpos ilegais”, escreveram os participantes na moção de denúncia e solidariedade. O pedido do bispo é que o texto seja lido em todas as celebrações das comunidades e paróquias da Prelazia do Xingu, além de espaços da sociedade civil.

Os participantes também exigem “medidas urgentes” da parte dos poderes constituídos na garantia dos direitos conquistados na Constituição Federal de 1988. Preocupados, sobremaneira, com os povos indígenas isolados, cujos territórios são ameaçados, expressaram solidariedade e reafirmaram o “compromisso com a defesa da vida na Amazônia”.

“Queremos apresentar ao Sínodo dos Bispos a situação dramática que os Povos Indígenas e comunidades tradicionais estão vivendo na Região do Xingu”, encerram a carta.

Na atividade de escuta em vista do Sínodo para a Amazônia, assessorada por Daniel Seidel, assessor da Rede Eclesial Pan-Amazônica/REPAM-Brasil, foram apontadas ameaças nas realidades sociais, políticas, econômica, ambientais e de pastoral. Os presentes também destacaram as contribuições do bioma, dos povos e da Igreja no cuidado com a casa comum.

“A riqueza das respostas é muito grande e diversa, mas expressa o compromisso de uma Igreja que deseja ser fiel a Jesus Cristo na Amazônia”, avaliou Daniel.

Segundo a articuladora da REPAM no Xingu, Dorismeire Vasconcelos, o encontro representou uma caminhada de discernimento “sobre que Igreja com rosto amazônico queremos e precisamos. Iluminados pela Palavra de Deus e o Magistério da Igreja e cientes de nossa missão, apontamos novos caminhos de ação evangelizadora para a Igreja e uma Ecologia Integral”.

No processo de ver, discernir e agir, os povos do Xingu elencaram contribuições dos povos indígenas e tradicionais à Igreja na Amazônia, pediram acompanhamento pastoral integral nos processos de organização dos próprios povos, pensando na sua identidade, na defesa de seus territórios e de seus direitos. As esperanças situam-se na perspectiva da proposta de ecologia integral.

Leia a moção completa:

Moção de Denúncia e Solidariedade aos Povos Indígenas do Xingu

 

Nós participantes do Encontro dos Povos do Xingu, presentes nos dias 15 a 17 de novembro de 2018 no Centro de Formação Bethânia em Altamira, Pará, continuamos o processo de Escuta previsto para o Sínodo Especial dos Bispos para Amazônia. Junto com nossos bispos, padres, religiosas e religiosos, cristãos leigos e leigas, representantes dos Povos Indígenas, ribeirinhos, extrativistas, quilombolas, agricultores familiares e movimentos sociais vimos denunciar as invasões nas terras indígenas, a retirada ilegal de madeira por madeireiros e fazendeiros, as queimadas, a poluição das águas, a morte de peixes e animais silvestres promovida pelas empresas mineradoras, hidrelétricas e garimpos ilegais.

Os povos indígenas atingidos são os PARAKANÃ, ARARA, ASURINI, JURUNA, ARAWETÊ, KAYAPÓ, XICRIN, KURUAYA E XIPAYA, do mesmo modo os ribeirinhos, extrativistas e quilombolas impactados pelos grandes projetos como hidrelétricas e mineradoras. Estas realidades são documentadas e acompanhadas pelo Conselho Indigenista Missionário CIMI Norte 2. Exigimos medidas urgentes da parte dos poderes constituídos que possa garantir os direitos conquistados na Constituição Federal de 1988. O contexto das eleições passadas criou um clima de ameaça à sobrevivência desses Povos.

Preocupa-nos sobremaneira a situação dos Povos Indígenas Isolados que têm seus territórios tradicionais ameaçados.

Expressamos nossa solidariedade aos Povos Indígenas e todos os grupos vulneráveis e reafirmamos nosso compromisso com a defesa da vida na Amazônia. Queremos apresentar ao Sínodo dos Bispos a situação dramática que os Povos Indígenas e comunidades tradicionais estão vivendo na Região do Xingu.

Altamira, 17 de novembro de 2018.

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