Notícia

O Povo Tupinambá do Baixo Tapajós realizou nos dias 09 e 10 de setembro a 5ª edição do Grito Ancestral, um grito de resistência pela defesa do rio Tapajós, seus povos e florestas; contra projetos de hidrelétricas, hidrovias e a contaminação causado pelo garimpo na Bacia do Tapajós.

Esse ano, a programação ocorreu em dois locais: aldeia Muratuba e aldeia Surucuá, na Resex Tapajós Arapiuns, margem esquerda do rio Tapajós.

Audiência Pública popular

No primeiro dia de programação, 09 de setembro, na Aldeia Muratuba, foi realizada uma audiência pública popular, puxada pelo Conselho Indígena Tupinambá, Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns, Movimento Tapajós Vivo e Conselho Indigenista Missionário.

O objetivo da audiência foi informar aos territórios indígenas  dados de pesquisas sobre a contaminação por mercúrio, causada pelas intensas atividades de garimpo predatório na Bacia do Tapajós.

Raquel Tupinambá, cacica do povo Tupinambá, fala que: a gente está muito preocupado com a nossa saúde, com a saúde do rio, com a saúde dos peixes, mas principalmente com o que pode estar acontecendo com a nossa saúde no sentido de que a gente sabe que as pesquisas têm mostrado os altos índices de mercúrio no nosso sangue e nos peixes.  A gente precisa se organizar, porque somos nós que somos os principais impactados.

Raquel Tupinambá. Foto: @estudiocomposicao_ e @costaazulinoproducoes

Segundo Raquel Tupinambá, a audiência pública popular teve a participação de mais de 350 pessoas das aldeias do território Tupinambá, assim como de outros territórios, além de militantes de movimentos sociais, ICMBio, UFOPA, Tapajoara.

Os Ministérios Públicos, Estadual e Federal foram chamados para a audiência, mas não compareceram.

A cacica informa ainda que durante a audiência pública popular foi construída uma carta manifesto com as reivindicações dos participantes da audiência. Nesta carta, “se pede que as autoridades, os órgãos fiscalizadores atuem com maior  pulso sobre os garimpos na região. A questão das balsas que estão passando Tapajós, a Ferrogrão, então nesse sentido que a gente criou essa carta manifesto, para levar essas nossas reivindicações até os órgãos e também clamar, até pra fora do nosso país. Dizer que nós, enquanto populações ribeirinhas, populações indígenas, e extrativistas sofremos esse racismo ambiental, esse racismo que a gente vive no Brasil”, finalizou. 

O Conselho Indigenista Missionário (CIMI), contribuiu na organização e na produção da carta manifesto, o representante local, padre Vanildo Pereira, falou ao Tapajós de Fato como foi essa participação.

“Diante dessa vulnerabilidade tão alta, viemos debater os impactos desse mercúrio no Tapajós e propor medidas de proteção à saúde e ao meio ambiente. Esse povo aqui vive do rio, é o sustento, é base da reprodução física e social desse povo. O CIMI, diante dessas ameaças, se coloca à inteira disposição e assim estivemos desde o começo”.

Sobre a carta produzida durante a audiência pública popular, padre Vanildo, um dos que redigiu a carta, diz o seguinte: “nós destacamos, sobretudo, a nossa preocupação diante das densas contaminações por mercúrio, falamos que esse problema vai se arrastando já há anos. E medidas concretas precisam ser tomadas de maneira urgente. E na carta nós pedimos com muita insistência a testagem em massa da população local que está dando sinais de contaminação”.

 

Indígenas Munduruku do Alto Tapajós foram à audiência, e compartilharam relatos. O Tapajós de Fato ouviu Beka Munduruku, que fala sobre o contexto do seu povo.

“É uma forma de fortalecer a luta, trazendo em pauta mais a questão da contaminação do mercúrio. Isso pode fortalecer mais a nossa luta pra gente continuar fazendo as denúncias e tentar acabar com o garimpo ilegal em terras indígenas”.

Outro relato, trazido por Beka Munduruku é que as grávidas são as mais afetadas, segundo ela, “têm mulheres que perdem o bêbê, ou nascem com problemas de má formação”. Beka fala também, e com muita tristeza, de como a lama destruiu os rios e igarapés, mudando completamente as relações dos povos indígenas com a  natureza.

“O rio de Jamanxim, onde tem muito garimpeiro, tem muita droga, então o rio é muito sujo mesmo. E tem uma aldeia lá que eles consomem muito, eles dependem muito do rio e das florestas. E eles são muito afetados também, agora no começo desse ano a esposa do cacique veio a falecer. Então essa é a realidade que a gente vive no Tapajós”, finalizou Beka Munduruku.

O grito de Resistência

O segundo dia de programação do 5º Grito Ancestral, foi na praia da aldeia Surucuá, que iniciou às 7h da manhã com um ritual indígena à beira do Tapajós. Em seguida, 3 barcos, com pessoas e faixas cercaram uma balsa carregada com soja. 

O grito não denuncia apenas a destruição que o garimpo causa ao Tapajós, mas também a destruição que o agronegócio causa a região como um todo, principalmente com a instalação de diversos portos ao longo do rio.

O ato simbólico representa a força dos ancestrais que resistem nas gerações do presente e que lutam pela preservação do território para as gerações futuras. 

Há uma preocupação dos indígenas com a preservação da natureza, não apenas pela importância para garantia da subsistência, mas também pela relação dos indígenas com os espíritos da floresta, preservação das ervas sagradas, águas sagradas.

O Grito Ancestral fazia parte da programação do Festival  ManíFestar. O ManíFestar foi construído por juventudes que foram conectadas do Tapajós e Belém, uma construção coletiva que potencializou os trabalhos, vivências e histórias de ativistas da Amazônia Paraense. O festival ocorreu de 05 a 10 de setembro.

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