Por Luís Miguel Modino

REPAM- Brasil

Cuide do que é seu! Um chamado de atenção que temos recebido muitas vezes, e que à medida que somos homens e mulheres de fé, deveria levar-nos a assumir o compromisso de cuidar do que é de todos, do que é comum.

Para isso, se faz urgente entrar num caminho de conversão, que nos leve a sair de nós mesmos para ter um olhar mais amplo, um olhar divino, que nos faz deixar para traz nossa mesquinhez humana que nos leva a nos encerrarmos dentro de nós mesmos, fomentando atitudes individualistas que nos afastam de tudo e de todos aqueles que estão em volta.

O cuidado é um chamado que aparece mais de 30 vezes na Laudato Si´. Desde o início, a Encíclica do Papa Francisco, inspirada em outro Francisco, nos faz ver que esse cuidado diz respeito àquilo que é comum a todos: a Casa Comum. Importa a cuidado do que é frágil. A gente se acostuma a dizer que quando algo é forte, resistente, não precisa de maiores cuidados.

A realidade planetária nos mostra que esse cuidado se torna cada vez mais urgente. Sete anos após a primeira Encíclica do Papa Francisco, vemos que, longe de melhorar no que diz respeito ao cuidado da casa comum, a situação vai piorando, e nossa Casa Comum está cada vez mais fragilizada. Não aprendemos, mesmo diante de catástrofes naturais cada vez mais frequentes, de fenômenos climáticos cada dia mais extremos, e que atingem sobretudo os mais pobres, pois “o clamor da terra como o clamor dos pobres” (LS, n. 49) é o mesmo, são eles os que mais sofrem as consequências da falta de cuidado, que tanta dor provoca no planeta e na humanidade.

Um cuidado que aprendemos com Deus, na medida em que assumimos que somos instrumentos dele, que “todos podemos colaborar, como instrumentos de Deus, no cuidado da criação, cada um a partir da sua cultura, experiência, iniciativas e capacidades” (LS, n. 14). Fomentar essa cultura do cuidado deveria ser um compromisso em nossa sociedade, também na nossa Igreja, na medida em que nossa fé se sustenta no relato bíblico em que o Criador recomenda à humanidade o cuidado de sua obra.

Um cuidado que tem que ser amplo, em nível geral, planetário, mas também em nível local, lá onde cada um vive, assumindo a conversão ecológica, um chamado decisivo à preservação da casa comum. Um cuidado que “interpela a nossa inteligência para reconhecer como deveremos orientar, cultivar e limitar o nosso poder” (LS, n. 78). Não podemos esquecer que fazemos parte de um mundo frágil, e somos nós, os seres humanos, a quem Deus confia o cuidado do mesmo.

Até que ponto a Encíclica Laudato Si´ está nos ajudando a “dar maior coerência ao nosso compromisso com o meio ambiente” (LS, n. 15), para que “nós, crentes, conheçamos melhor os compromissos ecológicos que brotam das nossas convicções” (LS, n. 64)? Não podemos ignorar a exigência de “uma preocupação pelo meio ambiente, unida ao amor sincero pelos seres humanos”, algo que o Papa Francisco coloca como “um compromisso constante com os problemas da sociedade” (LS, n. 91).

São compromissos que tornam concreta a conversão ecológica, algo que é pessoal, comunitário, e também eclesial, e que deve levar-nos a olhar a realidade de um modo diferente, um olhar mais cuidadoso, que nos leva a construir um mundo melhor para todos e todas, um mundo que realmente seja à imagem e semelhança de Deus, do Deus Criador, do Deus que é fonte de vida plena. A Semana Laudato Si´ é mais uma ocasião favorável para isso. Não deixe passar em vão esta valiosa oportunidade!

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