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Entre os dias 8 e 10 de novembro, mais de 300 pessoas estarão reunidas no Centro de Formação Vicente Cañas para celebrar o cinquentenário do Cimi

Por Assessoria de Comunicação Cimi 

Em clima de celebração, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) deu início às atividades do Congresso de 50 anos da instituição. O evento está sendo realizado entre os dias 8 e 10 de novembro, no Centro de Formação Vicente Cañas, em Luziânia (GO).

Para a comemoração das cinco décadas de trajetória do Cimi,o Congresso estrutura-se em torno dos eixos Memória, Mística, Resistência e Esperança e do lema “50 anos a serviço da vida dos povos indígenas”.

Ao longo dos três dias de encontro, mais de 300 pessoas – entre missionários e missionárias, lideranças indígenas, funcionários do Cimi, colaboradores e apoiadores da causa indígena – estão reunidas não só para festejar, mas também para partilhar a esperança e pensar em estratégias para os próximos anos de caminhada junto aos povos indígenas.

Logo no começo da manhã do dia 8 de novembro – abertura do Congresso –, foi realizada uma mística. “A nossa mística é militante, a causa indígena nós põe no centro do furacão do conflito. A nossa mística nos faz sonhar pela socialização dos latifúndios”, explica Paulo Suess, assessor teológico do Cimi e um dos fundadores da entidade.

Lideranças indígenas, com seus cantos e rituais, energizaram o espaço e os presentes ao som dos maracás e sob o aroma dos incensos, da água de cheiro e dos cachimbos. Em seguida, todos participaram de um canto emocionante: o “Renascer da Esperança”.

“Nossa força vem da nossa ancestralidade e da nossa espiritualidade”, conta Eunice Tapuia, liderança do povo indígena Tapuia do Carretão (GO), ao lembrar dos ensinamentos de sua tetravó. “Na minha aldeia tem beleza, tem arco e flecha, tem plantas e raiz para curar”, cantaram as lideranças.

Em um segundo momento, missionários e missionárias fizeram uma apresentação cênica, trazendo à memória o caminho construído ao longo dos 50 anos a serviço da vida dos povos indígenas e o surgimento de cada um dos onze regionais envoltos pela Mística, pela Memória e pelo Esperançar que move os missionários e missionárias do Cimi.

Como lembrou Domingas Apatso Rikbaktsa, liderança da Terra Indígena (TI) Erikbatsa, em Mato Grosso, “o Cimi vem enfrentando vários desafios, mas nunca abaixaram a cabeça e nunca cruzaram os braços. Enquanto tivermos saúde, nunca vamos deixar de lutar pelos nossos direitos”.

“São cinquenta anos dos mochileiros, de presença solidária e de muito aprendizado. Cinquenta anos de lutas, de convivência e de martírios, porque a causa indígena é a causa do Cimi”

Caminhos percorridos

A abertura do Congresso foi marcada pela calorosa acolhida dos participantes e pela mística que alimenta a vida missionária, destacada pela Irmã Lúcia Gianesini, vice-presidente do Cimi, que fez uma acolhida calorosa.

“São 50 anos de memória, de resistência e esperança. Cinquenta anos dos mochileiros, de presença solidária e de muito aprendizado. Cinquenta anos de lutas, de convivência e de martírios, porque a causa indígena é a causa do Cimi. Neste Congresso, somos convidadas e convidados a celebrar, fazer memória e contemplar a história com o coração agradecido”, destacou.

“Neste ano jubilar, fazemos memória do caminho percorrido na defesa da vida, da terra e dos direitos dos povos, do compromisso incondicional de estar sempre presente nas alegrias e nas dores”, afirmou Dom Roque Paloschi, presidente do Cimi e arcebispo de Porto Velho (RO).

“Os povos indígenas são sementes teimosas que se espalham alimentadas pela utopia do Bem Viver”, afirmou Dom Roque. “Mais do que nunca, a profecia se faz necessária agora. Diante da conjuntura atual, é necessário a todos nós ter a coragem de renovar a esperança, a resistência, a mística e a memória”, avalia Dom Roque.

O secretário executivo do Cimi, Antônio Eduardo Oliveira, reforça a construção a várias mãos do Congresso. “O processo dos 50 anos teve uma participação coletiva e efetiva de muita gente”. Também, evidenciou a relevância de diversos nomes que lutaram pela propagação desse ideal. “Desde nomes mais recentes que ainda atuam na causa como Cleber Buzatto, Egon Heck e Egydio Schwade, até Dom Pedro Casaldáliga, e tantas outras personalidades que auxiliaram nessa jornada”, listou o secretário.

Egydio Schwade, um dos fundadores do Cimi e da Operação Anchieta (Opan), falou do início da trajetória da entidade. “Fui o primeiro secretário nacional do Conselho Indigenista Missionário, movimento que teve início na Ditadura Militar. Com bastante dificuldade, conseguimos dar voz à causa indígena. Me considero um sobrevivente por toda a perseguição sofrida durante todos esses anos de caminhada”, recorda Egydio.

Por sua vez, Joenia Whapichana, primeira mulher indígena eleita deputada federal, agradeceu a oportunidade em participar do Congresso e pelo Cimi ter se colocado como sujeito de resistência à política anti-índigena enfrentada pelos povos originários no Brasil. “Os missionários trabalham dedicando sua vida em defesa dos povos indígenas, atendendo ao seu chamado de luta e resistência”.

Joenia ainda destacou a luta das mulheres indígenas. “Essa torna-se necessária principalmente pela atual política misógina, que busca silenciar a pauta e inibir o direito de manifestação de representantes femininas”.

Nesses 50 anos, o Cimi teve como pano de fundo a luta por uma outra sociedade, que se inspira na missão real e utópica das sociedades indígenas. “A nossa fé produz sinais de justiça e permite criar imagens de esperança, que podem produzir rupturas no sistema para que o mundo seja mais habitável para todos”, completa Paulo Suess.

O cinquentenário do Cimi marca e é marcado de forma profunda pela luta e resistência dos povos indígenas, evidenciados no depoimento de Wilson Pataxó Hã-Hã-Hãe, liderança da TI Caramuru Catarina Paraguaçu, no Sul da Bahia.

“Enquanto tiver indígena no Brasil, o Cimi vai estar presente, enquanto tiver terra para demarcar, o Cimi estará presente”, partilhou o líder indígena que é sobrinho de Galdino Pataxó Hã-Hã-Hãe, liderança assassinada em Brasília no ano 2000. queimado por jovens da classe média brasiliense enquanto dormia no abrigo de uma parada de ônibus, em Brasília.

O tuxaua do povo Macuxi, Jacir de Sousa, da TI Raposa Serra do Sol, avalia que são 50 anos em que o Cimi entendeu e acolheu a luta dos povos indígenas no Brasil. “E hoje, somamos forças para defender nossos direitos e demarcar nossas terras. Temos muito a agradecer ao Cimi pelos seus 50 anos”, reforça o tuxaua Macuxi.

Por fim, para oficializar de vez, e abrir as atividades da celebração dos 50 anos do Cimi, os participantes fizeram uma grande festa: bolo, balões, confetes e comidas de diferentes regiões do país compuseram o cenário da comemoração.

Nos próximos dias, estão previstas discussões sobre a caminhada dos últimos cinquenta anos, a resistência dos povos originários e a projeção de novos caminhos de esperança.

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