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Por Luís Miguel Modino

O Conselho Indigenista Missionário está comemorando 50 anos de caminhada em defesa dos povos originários. Com motivo da comemoração, acontece de 8 a 10 de novembro em Brasília um congresso onde participam mais de 300 pessoas, dentre eles vários representantes do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

“O congresso, ele está alicerçado em quatro colunas: a memória dos 50 anos, a mística, a resistência e a esperança”, segundo Dom Roque Paloschi. O Presidente do Conselho Indigenista Missionário afirma que “ao longo do congresso nós vamos resgatar uma memória tão importante para os caminhos do CIMI”, insistindo em “não olhar para trás com saudosismo, mas também perceber o profetismo, a determinação, a ousadia daqueles que lançaram a semente da criação do CIMI”.

O Arcebispo de Porto Velho – RO, diz que ao longo dos três dias do congresso, “vamos ver essa mística que vai dando sustentação diante da perseguição, das violências, das horas marcadas pela tristeza e o sofrimento, diante da ação do Estado, mas também diante da omissão desse Estado”. Dom Roque vê este momento como oportunidade para “olhar com ternura a resistência dos povos indígenas, porque aí está o segredo todo do caminho, nessa resistência que os povos indígenas foram buscando para alavancar bem o seu caminho”.

Dom Roque Paloschi chama a olhar essa história de 50 anos do CIMI “como um caminho onde fomos aprendendo com as comunidades indígenas, com os povos indígenas, nessa resistência desde uma ação não violenta, mas firme e permanente”. Uma oportunidade para “diante dessa realidade que estamos destroçados, e sobretudo nesses últimos quatro anos em relação às comunidades, toda negação, todo desmonte, todas as atrocidades, acalentar sinais de esperança, pois nós não podemos ignorar esses cenários que nós estamos tendo pela frente”.

Diante da atual conjuntura, Dom Roque faz um chamado a manter viva a aliança com os povos indígenas, que foi fortemente impulsionada no Sínodo para a Amazônia, “onde eles são os protagonistas diretos”, lembrando a expressão do Papa onde diz que “por mais que a gente faça, ainda é pouco”. O Presidente do CIMI coloca “o desafio de sermos também ousados e acreditar também nessa perspectiva de que toda ajuda ao povo indígena precisa ser com os sonhos da gratidão a Deus, porque a Covid demostrou a articulação, sobretudo dos jovens indígenas das aldeias, conseguiram marcar presença, divulgar os grandes gritos, não somente seus, mas de toda a população”.

“Olhar essa realidade da juventude indígena como um caminho de muita esperança”, é um dos pedidos de Dom Roque Paloschi. Segundo ele, “por outro lado é aquela luta quase sem glória diante da necessidade de lutar pelas políticas públicas, que foram negadas, desde essa questão da saúde, a negação das coisas elementares, sem falar da questão das demarcações”, ressaltando como grande grito a questão da luta contra o Marco Temporal.

O presidente eleito colocou dentro das propostas de seu governo a criação do Ministério dos Povos Originários, algo que “o CIMI olha com uma certa distância, porque sabemos que às vezes esse processo pode ser denso, mas pode trazer também situações de sofrimento”, segundo seu Presidente. O Arcebispo de Porto Velho, afirma que “é um anseio, é um direito das populações, por outro lado é preciso ter uma grande articulação. Para o CIMI significa também um empenho especial no acompanhamento dessa questão se efetivamente vai ser criado o Ministério dos Povos Originários”.

Dom Roque insiste em que “não somos contra, mas vai exigir de nós também uma capacidade de refletir bem para que isso não se torne de repente um caminho que não traga aquela contribuição tão esperada”. Nesse sentido, ele repete que “nós não estamos tutelando aos povos indígenas, eles são livres e decidem aquilo que julgarem melhor. Mas o CIMI não tem uma posição e não pretende se manifestar sobre a criação ou não de um Ministério Especial para os Povos Originários”.

O Presidente do CIMI insiste no “desafio que nós temos como Igreja de sermos capazes de nos recriarmos, de nos refazer diante de todo esse caminho tão difícil que foi a Covid, e sobretudo a capacidade de saber trabalhar com essa realidade tão plural do país, onde temos esse grande número de povos de cosmovisões totalmente diferentes, e que nós precisamos ter essa sensibilidade de ser presença que coopera, que colabora, que ajuda, e não de grupos que de repente não sermos capazes de ajudar à caminhada dos povos indígenas”.

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