Diácono Francisco Andrade de Lima
Secretário Executivo do Regional Norte 1 da CNBB
O Processo de preparação da Igreja para o Sínodo da Amazônia, tem sido de muita riqueza e de esperança, nos dias 15 a 17 de março na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, no Rio Juruá, Prelazia de Tefé, cerca de 70 lideranças representando as comunidades urbanas e ribeirinhas da Paróquia se reuniram em Assembleia. O Sínodo para a Amazônia, Amazônia Novos caminhos para a Igreja e para uma Ecologia Integral foi o tema.
A Assembleia iniciou em meio a uma forte chuva com uma Celebração Eucarística presidida pelo Pároco Frei Flávio. O ambiente todo preparado deforma Amazônica, com canoa, frutos, e flores, um altar feito com um tronco de árvore com uma taboa onde as mulheres ribeirinhas lavam suas roupas, tudo muito amazônico.
O Documento preparatório do Sínodo foi a base de reflexão para esta assembleia. O olhar da realidade foi feito a luz do documento, do documentário do Martírio de Ir. Cleuza, história muito próxima a história deste povo juruaense. Muitas reflexões, lembranças de missionários e missionárias que gastaram suas vidas neste chão de Juruá. Partilha de vida, de experiências, quanta emoção, quanta vida, quantos desafios. O julgar teve como base o texto do livro de Gênesis, 2,15, em que Deus confia ao homem e a mulher a criação divina, novamente muita partilha de vida, muitos exemplos de homens e mulheres que fizeram e fazem a experiência desta passagem da Sagrada Escritura. O agir, momento de renovar as esperanças, de sonhar, como diz o canto: “um sonho bom, sonho de muitos… sonhar ligeiro, sonhar companheiro, sonhar em mutirão”. Um grupo formado pelas crianças e adolescentes que estava na assembleia, sonharam com uma Igreja que dê mais atenção a elas, que trabalhe mais a vocação, que tenha mais padres, que esteja mais próxima. Os demais grupos pediram uma Igreja que se preocupe mais com a casa comum, que cuide da natureza, da criação; Uma Igreja que valorize mais os diversos ministérios que tenham diáconos permanentes, sacerdotes, missionários e missionárias, leigos e leigas, uma Igreja Sinodal, comunhão, participação. Que esteja mais perto das comunidades, que pense não a partir dos grandes centros, mas a partir da última comunidade, da mais distante, que forme seus leigos e leigas, que se preocupe com a vida de seu povo. Um gesto concreto surgiu a partir desta assembleia, as comunidades foram organizadas em setores, cada setor identificado por nomes de missionários e missionárias que gastaram a vida nesta região.
Um forte Grito ecoa desde o Rio Juruá, da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, nesta assembleia as cerca de 70 lideranças clamam por uma Igreja que leve em conta que a Amazônia tem vários rostos, e um deles está aqui em Juruá, um rosto indígena, ribeirinho, jovem, feminino, caboclo, que requer por parte da Igreja uma atuação mais próxima, mais presente, sobretudo junto as comunidades distante das cidades.
A Assembleia que foi acompanhada pelas bênçãos de Deus, através da chuva foi encerrada também em meio as águas que caíram do céu. Momento bonito, vivenciado e celebrado por este povo de fé, que mesmo em meio a tantos desafios é perseverante e pede que a Igreja tenha um olhar carinhoso, que valorize sua história, suas culturas, sua vida, um olhar cuidadoso, que ajude a cuidar de suas vidas e um olhar esperançoso que toda a Igreja possa perceber que aqui neste pedaço da Amazônia chamado Juruá, é também uma grande fonte de vida para Igreja e para o mundo.