Pracaxi, planta originada na floresta amazônica. Foto: Benedito Alcântara.

Meus pais nasceram no Marajó, eu nasci em Macapá. Estamos na foz do Rio Amazonas. Cresci ouvindo a minha mãe Maria falando de óleos e azeites, banhas e unguentos, chás e garrafadas. Para cada emergência, geralmente pela noite, a Mamãe utilizava a medicina da floresta. O que nunca podia faltar em casa era azeite de andiroba, copaíba e pracaxi.

Quando ficávamos surdos e sem escutar mais nada, além de um zumbido endoidecido na cabeça, muitas vezes até com febre, lá vinha a mamãe com o óleo de pracaxi! Dormíamos e um novo dia surgia, onde acordávamos escutando tudo e todos ao redor!

Cresci, fui morar fora de minha terra, voltei. E tive o privilégio de estar convivendo com as comunidades ribeirinhas das ilhas entre o Pará e o Amapá. As histórias de minha infância foram sendo recontadas, revividas, confirmadas! Principalmente em torno do pracaxi.

Mas como relacionar tudo o que estou escrevendo com a ecoteologia, em busca de novos caminhos e novas posturas na caminhada da igreja aqui na Amazônia? Sei lá, sou apenas um leigo de periferia, caboclo ribeirinho, que vou recolhendo e misturando o que falam nas exposições e o que escuto e vejo nas comunidades.

O discípulo missionário do nazareno em terras amazônicas tem que ter a atitude da amêndoa do pracaxi, que cai na água e vai repousar no fundo do rio, repousando silenciosamente por 7 dias, deixando-se empapar pelo lodo do leito primordial, até que é impelida a emergir e boiar na superfície das águas, quando então é recolhida calmamente pelas mãos ribeirinhas, secada ao sol, descascada, ajuntada em porções e ser esmagada pouco a pouco, para finalmente doar o seu óleo curativo e restaurador!

A pedagogia do pracaxi oferece esses passos: deixar-se cair nas águas, mergulhar nas profundezas, repousar, empapar-se, emergir-boiar, ser colhida, secar ao sol, abandonar a casca, formar coletivo, e, ato crucial, oferecer a sua melhor essência em processo de esmagamento!

O ato de massagear, esfregar o óleo de pracaxi, é ato final! Já é o bem viver, a bonança inebriando a existência, o bálsamo da vida que ressurge. Queremos chegar aqui, mas os passos anteriores precisam ser pedagogicamente percorridos.

A caminhada eclesial amazônica , urge se esfregar solenemente com o óleo de pracaxi, limpando todo o zumbido que nos deixa surdos, para apurar a escuta do pulsar de Deus na criação, com seu ritmo, seu movimento, suas inquietações.

Invocar o sopro divino, que sabe a temporada certa de irradiar nos discípulos missionários os seus dons, que nos pede a zelosa paciência, a sincera proximidade, a humilde aprendizagem. Abandonando pouco a pouco a “oratória” e exercitando cada vez mais a “escutatória”.

Discernir e sintonizar o tempo de Deus, acolhendo e aprendendo com o tempo do Pracaxi!

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