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Dom Pedro Brito Guimarães  | Arcebispo de Palmas – TO  e vice-presidente da REPAM-Brasil 

“Nasceu para nós um pequenino, um filho nos foi dado” (Is 9,5). Gosto muito desta profecia de Isaías. A ação de Deus, verbalizada pelo profeta, é a de dar-nos um Filho. Deus nos dá o seu Filho Pequenino. O bom e o belo de uma profecia é vê-la realizada. Profecia que não se realiza é apenas uma utopia. Esta é uma das profecias realizadas porque nos remete imediatamente a Jesus, no seu Natal. Trata-se, pois, de uma profecia teológica, porque foi Deus Pai quem nos deu este seu Filho. Trata-se também de uma profecia cristológica, porque este Filho é Jesus Cristo. E trata-se, enfim, de uma profecia antropológica e existencial porque, deste Filho doado, somos a imagem e a semelhança.

A palavra “Filho” remete à palavra “Pai”. Paternidade e filiação, em dupla doação: o Pai se dá e dá o Filho e o Filho se dá, no Pai, a nós. Em duas teofanias, Deus apresenta Jesus como o seu Filho Amado (Mt 3,17, 17,5). E Jesus de autointitula de Filho do Homem (Mt 8,20; 12,40; 16,27; 17,9.12; 24,27; 25,31; 26,24.64). Os predicados deste Filho, segundo a profecia de Isaias, são: “maravilhoso Conselheiro, Deus forte, Pai para sempre, Príncipe da Paz” (Is 9,5). A paz é tudo o que mais precisamos neste tempo, com tantas guerras, em pedaços, desfraldadas por mais de trinta lugares deste mundo, inclusive na terra nascente deste Filho que nos foi dado.

O salmo 8, ao exaltar toda a criação, coloca nos lábios das crianças e dos lactentes o perfeito louvor (Sl 8,3). Em um famoso sermão de Natal, São Leão Magno diz que “ninguém pode se manter indiferente diante de uma coisa que nasce”. Se isto vale para as coisas, vale muito mais para o Menino Jesus. As crianças, de fato, exercem um poder de atração especial em nós, adultos. Toda criança nasce com este poder atrativo de convocação. Imagine a atração que o Menino Jesus exerce sobre nós. Como não se entusiasmar, se encantar e se apaixonar com este Filho que nos foi dado por Deus Pai, para nos salvar? Pode haver encantamento maior do que este?

Até pouco mais de um século atrás, as crianças não eram muito consideradas como sujeitos de diretos. Na minha casa, por exemplo, as crianças não transitavam e nem se intrometiam livremente nas rodas de conversas de adultos. Foram os pintores, escultores e outros profissionais destas áreas que, ao pintarem ou esculpirem o Menino Jesus, inspiraram os pais a fotografarem seus filhos. Hoje, as crianças, ainda no seio materno, já possuem suas páginas nas redes sociais. Mas, antigamente, não era assim. Também, neste sentido, Jesus empoderou as crianças. O Estatuto do Nascituro, do qual a Igreja Católica é signatária, engavetada no Congresso Nacional, comprova o que estou afirmando. Há 75 anos, a Declaração dos Direitos Humanos, pela ONU, assegura que toda pessoa, ao ser gerada, passará a ter seus direitos garantidos.

Este ano de 2023, estamos comemorando 800 anos da criação do presépio, por São Francisco de Assis, o patrono da Ecologia Integral. Por causa disto, o Natal deste ano traz consigo um apelo ecológico, a chamada Ecologia Humana. Segundo pesquisas, as duas palavras mais usadas, neste ano de 2023, foram “mudanças climáticas”.  O Natal é um antídoto contra os defensores e os praticantes do aborto. Nada é mais contraditório que cultuar o Menino Jesus e praticar o aborto. Além do mais, as crianças, sem serem protagonistas, são as que, já agora e serão no futuro, as maiores vítimas das mudanças climáticas. É sintomático que, na Campanha promovida pelos Correios, entre bonecas e bolas, as crianças pedem piscinas. É ingenuidade ou profecia?

As mudanças climáticas também incidem sobre a saúde e a qualidade de vida da humanidade. Hoje, é quase impossível criar crianças, com saúde e qualidade de vida, sem vacinas. No meu tempo de criança, não era assim. Atualmente, não sei quantas vacinas uma criança deve receber para sobreviver. São muitas e variadas.

Portanto, neste Natal, no qual um Filho nos será dado, coloquemos tudo isto na manjedoura do nosso presépio, na comemoração dos seus 800 anos. Segundo Dom Rino Fisichella, meu professor, “o presépio é feito de muitos sinais, entre estes a precariedade”. No entanto, “o presépio é a beleza da essencialidade”. Espero que esta essencialidade não seja invisível aos nossos olhos e aos nossos corações, neste Natal.

Que este seja um Natal cristão, no qual merecemos receber este Filho que nos é dato. O que, de fato, não queremos é este tal de El Niño. Ninguém merece!

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