Após o rompimento da barragem de rejeitos de mineração no município de Brumadinho/MG, pastorais, movimentos sociais e outras articulações populares do Pará buscaram chamar atenção para os riscos da atividade mineradora no estado. São ao menos 18 barragens de alto risco já existentes e outras nove previstas sem que o Estado ou a Secretaria do Meio Ambiente tenham respeitado o direito de Consulta das populações que vivem no interior da floresta, denunciou um coletivo de entidades no dia 31 de janeiro.

A Carta dos movimentos do Xingu contra o modelo de mineração brasileiro foi assinada pelo comitê local da REPAM-Brasil e pela Comissão de Justiça e Paz da prelazia do Xingu. No texto, foi manifestada preocupação com a situação do Brasil, onde estão construídas 723 barragens consideradas de alto risco e alto dano potencial associado, segundo a Agência Nacional das Águas (ANA). Destas, 45 possuem risco iminente de se romperem.

Na carta dos movimentos do Xingu, os representantes das dezenas de entidades e grupos citam a possível liberação da implementação do Projeto Volta Grande de mineração da empresa canadense Belo Sun na Volta Grande do Xingu, que pretende explorar 150 toneladas de ouro, a maior mina de ouro a céu aberto do país, e que já fora reprovado por órgãos públicos como o IBAMA, o Ministério Público Federal/MPF, o Conselho Nacional de Direitos Humanos/CNDH, além de especialistas da Universidade Federal do Pará/UFPA.

“Exigimos o imediato cancelamento do projeto Volta Grande de Mineração da Belo Sun!”, pedem os membros do movimento. “Reafirmamos nossa luta em defesa da vida e dos povos indígenas, tradicionais e quilombolas e contra todo projeto de saque de nossas riquezas. Apontamos como saída outros paradigmas de vida, onde seres humanos e a natureza convivam em uma relação de equilíbrio sem exploração para garantir o bem-estar das pessoas e os direitos da natureza”, escreveram em outro trecho.

Os bispos da prelazia do Xingu, o titular, dom João Muniz Alves, e o emérito, dom Erwin Kräutler, coordenador da REPAM-Brasil, também se manifestaram recordando o projeto da empresa Belo Sun: “depois de Belo Monte com seus efeitos tão negativos para os ribeirinhos e indígenas, chega uma empresa canadense que pretende explorar as minas de ouro na Volta Grande do Xingu. Se o projeto chegar a concretizar-se ameaçará de modo dramático os sítios arqueológicos e afetará sensivelmente o ecossistema da região”.

Dom João e dom Erwin manifestaram-se “muito apreensivos e temerosos diante dos enormes riscos que esse empreendimento significa para o ser humano e o meio ambiente”. E questionam: “Quem realmente pode garantir que as instalações previstas tenham a segurança apregoada? Sabemos, no entanto, que as consequências de um desastre serão irreversíveis e jamais haverá recuperação das águas e das áreas atingidas no Xingu”.

Outra manifestação de preocupação no Pará foi da Pastoral da Juventude da diocese de Óbidos. No início de fevereiro, o grupo manifestou o desejo de união na luta pela vida e pelos direitos, contra as instalações de mineradoras e hidrelétricas que se encontram e que são planejadas para serem instaladas nos municípios do Oeste do Pará. “Diante dos grandes crimes ambientais em Mariana e Brumadinho, assim como tantos outros que acontecem no dia a dia e são silenciados pela mídia por não serem ‘de grandes proporções’, queremos expressar nossa preocupação com a vida dos irmãos e irmãs dos municípios de Oriximiná e Juruti”, afirmaram.

Somente em Oriximiná são 25 tanques de rejeitos de mineração. De acordo com os movimentos do Xingu, estes tanques estão próximos da população Quilombola de Oriximiná, no rio Trombetas. A operação é da empresa de mineração Rio do Norte, que tem a Vale como sócia, e explora Bauxita no interior da Floresta Nacional Saracá-Taquera.

“Não visamos como desenvolvimento o que mata a fauna e a flora, trazendo, além do seu ‘progresso’ grandes impactos ambientais, culturais e sociais”, reforçam os jovens.

Imagem de capa: Carlos-Penteado/Comissão Pró-Índio/SP

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