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“Que caminhos nos propomos a trilhar com os povos das florestas e das águas em defesa de seus direitos e pela vida da Amazônia?”

Por Guilherme Cavalli, Igrejas e Mineração

A pergunta motivadora levou líderes religiosos e representantes de organizações confessionais a promover um encontro inter-religioso no último domingo (06) durante os Diálogos Amazônicos. O evento, que aconteceu em Belém (Pará, Brasil) entre os dias 4 e 6 de agosto, antecede a Cúpula de Presidentes da Amazônia, que começa nesta terça-feira (08). O objetivo do encontro foi  revisar os caminhos percorridos pelas Igrejas nas questões socioambientais e propor um processo  entre a Cúpula da Amazônia e a Conferência das Partes (COP) sobre Mudança do Clima que será em Belém em 2025.

O papel das religiões no diálogo

É urgente  partilhar reflexões sobre o papel das religiões no diálogo e o chamado em um momento em que a governança climática global é crítica”, disse Dario Bossi, membro da equipe de coordenação da rede Igrejas e Mineração. “É extremamente importante criar processos e construir caminhos conjuntos para que possamos chegar à COP30 em unidade e podermos empoderar as vozes dos povos neste espaço que por vezes é cooptado pelas empresas”. O comboniano destacou a importância de uma conversa permanente entre as realidades das Igrejas da Amazônia com organizações de fora: “como movimento pedagógico, de diálogo desde a educação popular, precisamos estabelecer essa ponte entre as atividades que construímos e acompanhar na região e os pensados ​​globalmente. A Conferência das Partes (COP30) sobre Mudanças Climáticas de 2025 acontecerá na Amazônia, mas fala para o mundo. Como nos envolvemos?”, disse o religioso.

O diálogo coordenado pela Rede Igrejas e Mineração (RIM) reuniu representantes da Coordenação de Serviços Ecumênicos (CESE), Rede Eclesial Panamazônica (REPAM), Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), Iniciativa Inter-religiosa pelas Florestas Tropicais no Brasil (IRI-Brasil), Frente dos Evangélicos pelo Estado de Direito (FEED) e representantes da Igreja Anglicana. A articulação das entidades continuará se reunindo em diálogos com organizações comunitárias indígenas, afrodescendentes e tradicionais na  construção de uma agenda em defesa da natureza e dos povos que a sustentam .

Tapiri: Experiência de diálogo inter-religioso e ecumênico

A Secretária Geral do CONIC, Pastora Romi Bencke, relembrou a experiência profética do Tapiri, um espaço ecumênico e inter-religioso que reuniu vozes de lideranças indígenas, quilombolas e outras espiritualidades para discutir perspectivas sobre a proteção da floresta durante o Fórum Social Panamazônico (FOSPA), em 2022. «O que vivemos com Tapiri nos trouxe a urgência de nos perguntarmos o que é que nós, como religiões cristãs, como preocupadas com o mundo,  precisamos aprender com as espiritualidades da selva . As espiritualidades dos povos e o acompanhamento das Igrejas cristãs são formas de garantir a existência da Amazônia”, disse o reverendo.

A reflexão do pastor foi acompanhada por Dimas Galvão, da equipe de projetos e formação da CESE, que relembrou as preocupações dos indígenas do Tapiri. «Durante a FOSPA, os povos provocaram as Igrejas: ‘é isso mesmo que eles querem? O discurso é bom, mas a prática tem que mudar. Temos que fazer algo mais coerente com o discurso que estamos fazendo”, lembrou Galvão. Como proposta, o grupo refletiu que novos “Tapiris” sejam promovidos nos territórios pan-amazônicos e discuta sua presença no próximo FOSPA que será realizado na Bolívia. Tapiri é uma palavra indígena que significa “cabana onde os caminhantes se refugiam”. O nome foi escolhido para o FOSPA 2022 como símbolo do fortalecimento das lutas pela promoção e garantia dos direitos dos povos da Amazônia e do combate ao fundamentalismo religioso e político.

Amazônia, a última fronteira da exploração capitalista

Para o pastor Wilson, da Frente dos Evangélicos pelo Estado de Direito, sediar a COP30 em Belém, na Amazônia brasileira, significa um último apelo à urgência de preservar a região. «O Brasil com a Amazônia é a última fronteira para a exploração capitalista. A COP na Amazônia representa esta última chance para o futuro. Ao mesmo tempo, a Amazônia é tudo que o capitalismo precisa para continuar: água, mineral, madeira e através da religião do mercado”, enfatizou. “É por isso que a COP30 chega à Amazônia e vê a região como uma última fronteira tanto para o capitalismo quanto para alternativas à crise global e socioambiental.” O pastor e professor da Universidade Federal do Pará (UFPA) acredita que a oportunidade que a COP30 trará para Belém é decisiva para frear o avanço de um projeto explorador que ameaça a vida no planeta.

O grupo reunido, em unidade, destacou que a espiritualidade dos povos e o acompanhamento das Igrejas cristãs são formas de garantir a vida na Amazônia. Ao mesmo tempo, destacou que as religiões historicamente tiveram um papel decisivo na colonização por meio da cruz que foi unida à espada. Nesse sentido, destacou a urgência de ” promover uma abertura e uma conversão retrógrada por parte das Igrejas«, para que as religiões aprendam com os povos da selva e possibilitem a compreensão do sagrado na água, do sagrado presente na natureza, como forma de promover os ensinamentos presentes na Encíclica «Laudato Si», do Papa Francisco, ou a “Confissão de Acra”, que apontam questões sobre a urgência das questões climáticas e justiça socioambiental.

Fonte: DNA Celam See More

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