Foto: Flávia Gonçalves

Por Ariana Frós

Regional Nordeste 5

REPAM Brasil

Esta frase ecoou na roda de conversa sobre os conflitos socioambientais existentes nos territórios tradicionais pesqueiros da Amazônia, durante o penúltimo dia (30/07) do X Fórum Social Pan-Amazônico. Diversas comunidades de pescadores da região amazônica  se reuniram para denunciar as invasões e refletir sobre alternativas para resistir e preservar o meio ambiente e sua dignidade.

Do norte ao nordeste do país, o grito de socorro é o mesmo entre os pescadores: o de preservar suas comunidades locais e de manter a pesca artesanal viva. Esta, para a grande maioria dos pescadores artesanais, é a única fonte de renda existente, em locais já habitados por eles há mais de 100 anos.

Neste conflito, realidade presente e preocupante o avanço dos grandes empreendimentos que invadem, deterioraram e acabam com a flora e a fauna das regiões, com promessas de melhorias na qualidade de vida dos pescadores.

Fernanda Dias. Foto: Ariana Frós

Fernanda Dias, do povoado de Beira Campo (Papagaio), trouxe uma dessas realidades tristes e preocupantes vindas do Maranhão que atingiu cerca de 80 comunidades quilombolas e indígenas, em um processo sem audiência pública, e, que na invasão, as máquinas derramaram óleo nos rios, matando os peixes da região.

“Em 2019, começou nosso sofrimento. A população do meu território dormiu tranquila e acordou com os barulhos de máquinas que chegaram já destruindo o nosso território, não tivemos conhecimentos do que ia acontecer. Veio a EDP (Empresa de Energia de Portugal), – que em suas Redes Sociais tem coisas lindas, projetos que preservam a natureza -, mas a EDP mata, a EDP destrói, destrói vidas, destrói povos, e tudo isso tem acontecido no meu território”, relatou Fernanda.

William Victor. Foto: Ariana Frós

Por outro lado, valiosas alternativas vêm sendo construídas para driblar a situação, como a do jovem William Victor, que para tentar frear as investidas da construção de um porto na região, criou junto à comunidade o projeto Encantos do Maicá, um projeto que visa o Turismo de Base Comunitária (TBC). “O Projeto tem o objetivo de gerar  renda extra alternativa no Lago do Maricá que engloba toda a comunidade com oficinas. A Embrapes está aí nos ameaçando, mas essa é a nossa maneira de resistir”, disse o jovem William.

O Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), uma pastoral social ligada a Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Social Transformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), articula e contribui com a população pesqueira nos mais diversos territórios do Brasil. Uma das formas apontadas é insistir na articulação única em benefício de todos os pescadores, como defendeu Gilberto Lima, do CPP do Maranhão. “Os grandes empreendimentos, continuarão avançando, porque todos os governantes podem fazer as suas promessas, mas aquilo que interessa economicamente é aquilo que vai prevalecer, e se as nossas comunidades trabalharem unidas e articuladas a gente consegue avançar. Pode ser pouco, mas a gente avança”, concluiu.

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